“Você sabia que gente também é semente? E gente sendo semente precisa ser cultivada”. Foi com o tom de cultivar os valores do cuidado, da singeleza e da rebeldia que a 14° Jornada de Agroecologia no Paraná concluiu, neste sábado (25), um ciclo para iniciar outros tantos no coração de homens, mulheres e crianças ali presentes.
A jornada, que começou na quarta-feira (22), teve quatro dias de intensos debates, socializações de conhecimentos e cultivo dos saberes. Toda a beleza desses dias se reflete no ato de encerramento com a convocação do povo para assumir o compromisso de construir novas relações entre os homens e a Mãe Terra, de serem guardiães e guardiãs das sementes e da biodiversidade para a humanidade.
Mercedes Bustamante: "Se se quiser conservar o rio São Francisco, tem que se conservar os 48% de vegetação do Cerrado que ainda estão lá". Confira a entrevista com a estudiosa de Cerrado:
"Termina o IV Congresso da CPT e eu volto pra casa repetindo o que ouvi: ah! se não fosse a CPT!". Confira análise da pastora metodista, Nancy Cardoso, agente da CPT Bahia, sobre os clamores que surgiram no IV Congresso da CPT.
(foto: Joka Madruga)
O povo diz assim como quem fala de uma caneca velha, boa de beber água... ou qualquer outra coisa, então, um café. Uma caneca muito usada, marcada pelo tempo. Desse imaginário vivido no IV Congresso retomo uma perspectiva esperançosa para o trabalho pastoral e um chamado de atenção. A CPT não é caneca! ... é a vontade de beber!
Retomo um texto antigo sobre movimentos sociais porque ele vai se confirmando.
Esperança e conquista. Palavras que ajudam a transmitir o espírito das experiências partilhadas por trabalhadores e trabalhadoras do campo na Tenda Rio Branco, que aconteceu na última quarta-feira (15) durante do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado em Porto Velho (RO) entre os dias 12 e 17 de julho.
(Equipe de Comunicação João Zinclar – IV Congresso Nacional da CPT)
Em sintonia com o eixo temático do 3º dia de atividades do Congresso, a ‘Esperança’, Elenilson da Conceição, da cidade de Monsenhor Gil, no Piauí, compartilhou sua história de sofrimento e perseverança, que começou no momento que lhe fizeram uma proposta para trabalhar no estado do Pará, em 2004. ‘’Eu disse que não tinha dinheiro para pagar a passagem e nem tinha os equipamentos, mas, me garantiram que eu não precisava me preocupar com isso. Que eles iam pagar tudo’’, conta.
Elenilson, então, embarcou na jornada que acabaria por se tornar a mais difícil de sua vida. Ao chegar na Fazenda Rio Tigre, localizada em Santana do Araguaia (PA), percebeu que a realidade do trabalho era bem diferente do que as promessas que recebera. ‘’Quando você é levado para este tipo de lugar, a primeira coisa que você perde é o nome. Eu era chamado de ‘Piauí’, porque era de onde tinham me trazido’’, disse o trabalhador.
Ameaças, condições insalubres de moradia, dívidas e trabalho forçado fizeram parte da rotina diária de Elenilson e mais 77 pessoas desde então. Após aproximadamente 4 meses de trabalho análogo ao de escravos, os trabalhadores da fazenda Rio Tigre foram resgatados pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Trabalho. Com ajuda da CPT de Xinguara (PA), 15 piauienses que faziam parte deste grupo retornaram às suas casas.
Histórias como as de Elenilson são, infelizmente, uma realidade no Brasil. Por isso, a CPT realiza nacionalmente a Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo, que completa 18 anos de atuação em 2015. Para saber mais sobre a campanha, clique aqui.
De volta a Monsenhor Gil (PA), o grupo de camponeses resgatados começou a participar de reuniões periódicas com a CPT do Piauí, discutindo as razões de estarem em situações parecidas, como a questão da dificuldade do acesso à terra, e buscando alternativas para se romper com o ciclo da escravidão. Essa organização dos trabalhadores produziu muitos frutos, como a criação a Associação do Assentamento Nova Conquista, formada por 39 famílias do munícipio.
Buscando alternativas para trabalhar, morar e viver com dignidade, a Associação se mobilizou e pressionou o poder público, apontando a carência de políticas públicas para as populações camponesas da região. Em 2009, após anos de luta e reinvindicações, a ‘conquista’ se tornou realidade: o Assentamento Nova Conquista, que carrega o nome da associação de trabalhadores, foi criado legalmente, após demarcação do INCRA.
Hoje Elenilson e sua família fazem parte do grupo de assentados do ‘Nova Conquista’, o primeiro assentamento constituído por e para trabalhadores que passaram por situações de trabalho análogas à escravidão. Uma história carregada de esperança. ‘’Mais um passo à frente, nem um passo atrás, a reforma agrária é a gente que faz’’, cantou o grupo de congressistas participante das exposições na Tenda Rio Branco.