Romarias da Terra, Romarias da Terra e da Água, Romaria em memória das lutas e dos mártires. Nesses últimos 30 anos, a CPT Regional Nordeste 2 promoveu inúmeras Romarias, talvez mais de 100. Essas Romarias são a “cara” da CPT e simbolizam a luta real contra o latifúndio e a fé na vitória e na partilha da Vida. Nos moldes da Teologia da Libertação, elas significam o encontro de uma prática muito enraizada na tradição religiosa do povo camponês cristão - as peregrinações e romarias aos santuários e lugares sagrados - com o conteúdo da luta pela terra.
O lugar para onde se caminha numa Romaria geralmente é marcado por lutas em defesa da terra, da Água, do Pão, da Justiça e Dignidade. As Romarias da terra possuem uma dimensão celebrativa, festiva. É a face mais visível e repercussiva de um trabalho miúdo, contínuo, incansável e silencioso feito com as comunidades camponesas. São as Romarias que identificam melhor a dimensão cultural e a religiosidade popular presentes na atuação da Comissão Pastoral da Terra. As Romarias são uma originalidade do trabalho da CPT e se apresentam como um modo de ampliar o seu raio de ação entre os camponeses e as camponesas em suas comunidades e entre a sociedade em geral. Além de celebrativas, as Romarias têm um cunho pedagógico, reforçando a mística da terra, da luta pela terra e na terra. Significam a afirmação da identidade e da condição dos camponeses e das camponesas enquanto membros de uma família maior, de uma grande “Liga Camponesa”.
Significam a afirmação pública, aos olhos da sociedade, de que os povos da Terra, das Águas e das Florestas são “gente”. A terra é para nela caminhar. A terra é para quem nela trabalha. A terra é de Deus e do seu Povo. A terra grita por libertação, sofre cativeiro e exílio. As Romarias são respostas ao apelo da terra por libertação e justiça. Por isso, os povos da Terra, das Águas, das Florestas e das cidades se juntam nas grandes caminhadas, cantando cânticos de liberdade e de caráter pascal: sair do cativeiro para entrar na terra prometida, terra de fartura onde corre “leite e mel”. As memórias da Páscoa bíblica e do êxodo acompanham as lutas de hoje. Hoje, “Moisés é a gente”, é o povo que abre o caminho, separa as águas, rompe as cercas e toma posse da terra. Imbuídos e imbuídas dessa mística e formados/as na escola da tradição bíblica, os/as agentes de pastoral e as comunidades camponesas buscam, ao realizarem as Romarias, a esperança de uma vida feliz nesta terra, pois, como cantam, “já temos terra no céu”.
Padre Hermínio Canova Comissão Pastoral da Terra – Regional Nordeste 2