Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Cerca de 350 mulheres camponesas, ligadas aos movimentos sociais do campo de Pernambuco e da Paraíba ocupam, na manhã desta sexta-feira, dia 08 de março, a Usina Maravilha, localizada no município de Goiana, zona da mata norte de Pernambuco. A Usina pertence ao mesmo grupo empresarial da Cruangi, que ao longo de 2012 foi notícia em todo o estado ao paralisar suas atividades por acumular dívida trabalhista milionária. No fim de fevereiro, foi anunciada a desapropriação de parte das Terras do Grupo, feita pelo Governo do Estado no montante de R$ 25 milhões, para servir de área à construção da Fábrica da FIAT, em Goiana/PE.
 
O principal objetivo da mobilização é cobrar do Governo a desapropriação de todas as Terras do Grupo Maravilha/Cruangi para fins de Reforma Agrária. “Os Governos Federal e estadual não desapropriam um palmo de terra para a Reforma Agrária, justificando a falta de recursos. Mas desapropriam terras quando é de interesse das grandes empresas”, ressalta Marluce Melo, da Comissão Pastoral da Terra em Pernambuco.
 
A ação faz parte da jornada nacional de luta das mulheres camponesas sem terra que acontece no estado em todo o país na semana do dia 8 de março e tem como lema: “Mulheres Sem Terra na luta contra o capital e pela soberania dos povos”. Mobilizadas no dia internacional de luta das mulheres, as camponesas fazem o enfrentamento contra o retrocesso das conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, e contra a total paralisação da Reforma Agrária.

Mulheres na luta pela Reforma Agrária
No ano que se encerrou, o Brasil assistiu a Reforma Agrária atingir um de seus piores indicadores em décadas. Em um país onde existem cerca de 200 mil trabalhadores e trabalhadoras em luta pela terra, o Governo Brasileiro desapropriou apenas 31 novas áreas, totalizando somente 72 mil hectares, segundo informações do próprio Incra. Neste mesmo ano, somente 23 mil famílias foram assentadas em 117 assentamentos criados a partir de processos muitos antigos. Índices tão baixos só foram atingidos na década de 90, com o Governo de Fernando Collor.
 
Histórico de protestos na Usina Maravilha/ Cruangi
Em junho do ano passado a Usina Cruangi entrou numa crise financeira e demitiu cerca de 3 mil trabalhadores com salários, férias e 13o. atrasados. Na ocasião, a FETAPE realizou diversas mobilizações, incluindo uma ocupação no pátio da Usina em 30 de julho de 2012 para denunciar a violação dos direitos trabalhistas. No dia seguinte à ocupação, a Federação, em conjunto com seis sindicatos que têm trabalhadores empregados na Usina Cruangi protocolaram, no Incra/SR03 e no Governo do Estado, um pedido de desapropriação das terras da empresa para fins de Reforma Agrária. Em dezembro de 2012, um grupo de trabalhadores rurais sem terra ligados ao MST ocuparam dois engenhos na Usina, reivindicando a desapropriação para fins de Reforma Agrária.
 
O Grupo Econômico Cruangi também já foi alvo de outras mobilizações de mulheres camponesas em seu dia internacional de luta. Em março de 2009 as mulheres da Via Campesina realizaram mobilização em frente da sede da Usina Cruangi, em Timbaúba. Na ocasião, a Usina foi alvo de protesto por submeter 252 trabalhadores rurais em regime de escravidão, dentre eles, 27 menores de idade no ano de 2009. Já naquele ano, as mulheres da Via Campesina reivindicaram a desapropriação das terras da Usina pelo seu não cumprimento da função social da propriedade rural.

Além possuir terras no estado de Pernambuco, a Usina Cruangi/ Maravilha também está presente na Paraíba. No município de Caaporã, cerca de 60 famílias de trabalhadores rurais ocuparam, em junho de 2012, o Engenho Retirada, pertencente ao Grupo. Na ocasião, as famílias também reivindicaram as terras para fins de Reforma Agrária.
 
Outras informações:
Renata Albuquerque
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