A Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Diocese de Campina Grande (PB) participou, na manhã do 1º de abril, da palestra "Colonialismo energético em territórios camponeses a partir da implantação de complexos de energia renováveis e não renováveis".
O evento foi promovido pela professora Dra. Ivanalda Dantas da Nóbrega do Departamento de Geografia e do Grupo de Trabalho e pesquisa território, Trabalho e cidadania da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.
Entre os debatedores, estava Vanúbia Martins, agente pastoral da CPT em Campina Grande. O painel também contou com a presença do professor Dr. Antônio Jeovah de Andrade (UFC), professor Dr. Fernando Joaquim Ferreira Maia (UFPB) Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB (PPGCJ-UFPB) e integrante do Grupo de Pesquisa Dom Quixote, professor Dr. Luís Gustavo de Lima Sales (UFCG).
Durante sua exposição, Vanúbia destacou que "para falar de colonialismo energético, é preciso lembrar sempre que esta é mais uma estratégia ligada ao capitalismo agrário. O Brasil colonizado segue se ajustando ao que foi proposto pelo colonizador: ser provedor. A vocação para produção de commodities continua". Ela mencionou ainda como o capital se movimenta no espaço e no tempo, sempre com apoio do Estado, e ressaltou os impactos das energias renováveis, que, apesar do discurso de sustentabilidade, têm provocado degradação ambiental e expulsão de comunidades. "O que temos visto mesmo é a ampliação da insegurança alimentar e a violação de vários direitos", afirmou.
Vanúbia também citou o impacto desse modelo na comunidade do Lamarão, em Picuí, onde mais de 20 famílias já migraram, deixando 15 casas abandonadas. "Saíram para dar lugar às estradas e aerogeradores", pontuou.
A fala do professor Fernando Joaquim deu sequência à análise da CPT. Ele abordou a relação entre os assentamentos de reforma agrária e os impactos dos empreendimentos energéticos, destacando que os assentamentos estão entre as áreas mais afetadas na Paraíba.
O professor alertou para os contratos de arrendamento firmados entre agricultores e empresas, muitas vezes com cláusulas abusivas que comprometem os direitos dos trabalhadores rurais. Segundo ele, embora não haja uma regulamentação específica sobre a energia eólica e solar, esses contratos acabam sendo legitimados por normas jurídicas. Além disso, Fernando mencionou que muitos agricultores assinam contratos por estarem em situação de vulnerabilidade, sem plena consciência das consequências, incluindo a perda de direitos como a aposentadoria especial.
Seguido pelo Prof. Dr. Gustavo que mostrou em cartografia as áreas mais afetadas – o corredor dos ventos – sendo ela o Seridó e Currimataú Paraibanos desde a serra de Santa Luzia onde já estão implantados vários parques formando o complexo canos e o Serra do Seridó, acompanhado pelo Curimataú onde está sendo implantado neste momento e em franca expansão, ocupando os territórios de produção de alimento e cercando o território agroecológico da Borborema.
O professor Antonio Jeovah, trouxe o caso da mineração de urânio em Santa Quitéria-CE, apontando como a produção de energias renováveis e não renováveis seguem ocupando os territórios camponeses. Segundo ele a mineração de urânio a céu aberto é um perigo, mas também, a barragem de rejeito irá contaminar o rio que abastece a cidade.
A palestra proporcionou um espaço de debate essencial para refletir sobre os desafios enfrentados pelas comunidades camponesas diante da expansão dos complexos energéticos no Brasil. O evento permitiu a troca de conhecimentos entre pesquisadores e agentes pastorais e alunos da geografia agrária, contribuindo para a ampliação da compreensão sobre os impactos sociais e ambientais desse modelo de desenvolvimento.
Assista o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=B0zAFA1SHKs