Ontem, 14, foi lançada a Campanha da Fraternidade 2024 (CF 2024) em diversos estados do país e no Distrito Federal. Há 60 anos, o lançamento ocorre quando se inicia o período quaresmal. Em Campina Grande, na Paraíba, a abertura da CF2024 aconteceu na missa da tarde da Quarta-Feira de Cinzas na Catedral Diocesana Nossa Senhora da Conceição. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) marcou presença.
Antes da celebração, o Bispo Diocesano Dom Dulcênio de Matos, o Padre Alexandre, coordenador da Campanha e o Padre Luciano, vigário geral, concederam uma entrevista coletiva a imprensa campinense para apresentar o tema da CF2024 e animar os cristãos e não cristãos para se unirem em prol de uma comunidade humana mais fraterna, como nos convida o Papa Francisco.
O tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8)” foram inspirados pela Carta Encíclica Fratelli tutti, do pontífice.
A campanha amplia o chamado a construção da fraternidade universal, compreendendo a fraternidade como uma forma de enfrentamento às injustiças, ao processo de divisão, ao ódio, às indiferenças e às guerras em que vivemos. De acordo com o Clero, trata-se de um convite a olharmos para além das nossas dores e sermos acolhimento e sinal de amor a todas e todos empobrecidos da terra.
Já na Catedral, Dom Dulcênio lembrou que “foi na última ceia onde Jesus convidou os discípulos e amigos à partilha”, por isso, a fraternidade universal só será construída no acolhimento aos irmãos e irmãs, com suas diferenças e divergências. Como em toda Campanha da Fraternidade, é feito o convite para a ação, e o “gesto concreto” em 2024 será formar grupos de escuta, acolhimento e solidariedade em cada comunidade, de forma a incluir todas e todos.
Para CPT na Diocese de Campina Grande, o chamado a uma “Fraternidade Universal” é um convite a repensar sobre o modo como se dão as relações entre humanos e com os não humanos. “A terra explorada ao máximo, o desaparecimento de espécies que nos são necessárias, o aquecimento do planeta e a redução das águas potáveis têm aumentado as migrações forçadas e a fome, pois alguns territórios têm se tornado impossível habitar, nisto não há fraternidade”, avalia a equipe pastoral.
A fraternidade social na Paraíba e no Brasil, passa por uma Reforma Agrária efetiva, partilhando a terra, dando acesso livre as águas, bem como por uma reforma urbana. Somente através dessa partilha será possível ver “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”, assim, reduzindo a violência fruto das injustiças sociais.
O desequilíbrio geral na natureza e entre os humanos aumentam a fome e as violências, faz com que uns entrem em guerra pela sobrevivência, enquanto outros, fazem guerra para acumular mais riquezas.
Nos territórios do Curimataú/Seridó, Borborema e Cariri pertencentes a Diocese de Campina Grande, a fraternidade entre os viventes da terra tem sido cada vez mais comprometida. As grandes empresas de produção de energia renovável ocupam as terras dos pequenos; desmatam milhares de hectares, destroem nascentes, rios e riachos – lugares de proteção de espécies nativas; prejudicam a vida de comunidades tradicionais de quilombo, de serras e territórios agroecológicos, como o POLO da Borborema. A ocupação predatória das áreas de produção de alimentos, deixa as famílias sem rumo e a população pouco a pouco sem alimentos à disposição.
A CPT na Diocese de Campina Grande acredita que nesta CF 2024 é preciso escutar o Profeta Isaias: “Ai de vós que juntam casas com casas e emendam campos com campos, até só restarem vocês no centro da Terra” (Is: 5-8) e seguir na construção de novas relações mais justas e fraternas em outra economia, como veio anunciar o próprio Jesus de Nazaré.