Em 2022, o estado de Alagoas teve um aumento de 68,75% de registros de conflitos no campo em relação a 2021. O relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2022 apontou 27 registros envolvendo 9.776 pessoas. No ano anterior, foram verificados 16 casos envolvendo 17.466 pessoas.
Setor de comunicação da CPT NE 2
A maioria dos dados registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc-CPT) foram enquadrados na subcategoria conflitos por terra. O crescimento foi de 166,66%. Enquanto em 2021 foram verificados 9 conflitos por terra, envolvendo um total de 4065 famílias; em 2022, o número chegou a 24, envolvendo 2.282 famílias. Destes registros, 5 dizem respeito ao conflito que afeta famílias posseiras na antiga Fazenda Mônica, em Colônia Leopoldina. Nesse caso, as ameaças são frequentes.
Maurício Alexandre, posseiro na área, além de sofrer ameaças, teve sua lavoura envenenada por drones em novembro do ano passado após rejeitar uma proposta de valor irrisório para sair da área.
“No dia 09 de novembro de 2022, eles meteram o drone na minha lavoura e acabaram com tudo. Mais de 7 hectares de bananas, mas também de maracujá, manga, coco e muitas outras coisas. Naquele mês eu perdi 40 mil bananas, que era a época de produção”, disse Maurício durante o lançamento da publicação Conflitos no Campo Brasil 2022 em Maceió, realizado em 26 de maio de 2023.
A maioria das famílias da comunidade de Mônica saiu da localidade devido às intimidações. “Das 16 famílias nascidas e criadas ali, hoje só se encontra eu e mais dois, que pela misericórdia do Senhor, lutamos”, relatou o agricultor.
Segundo o levantamento, Alagoas teve 3 conflitos por água nos municípios de Delmiro Gouveia, Palmeira dos Índios e Pão de Açúcar, respectivamente no Quilombo do Povoado Cruz, Quilombo Tabacaria e comunidades da região de cima. As situações são de impedimento de acesso à água, destruição e/ou poluição.
Em 2022, o relatório não registrou ocorrências de resgates em trabalho escravo rural em Alagoas.
A respeito das manifestações de resistência e luta por direitos, sejam protestos nas ruas ou ações de solidariedade, Alagoas, o segundo menor estado do Nordeste, foi o 5º estado da região e o 6º do Brasil com mais registros: foram 50 ocorrências de manifestações envolvendo 12.400 pessoas. A média é de mais de 4 ações por mês. Na avaliação da CPT em Alagoas, o número decorre de uma característica específica do estado: a unidade entre as organizações e movimentos do campo para a realização de ações conjuntas.
O estado que mais realizou manifestações no país foi o Paraná, com 84 ocorrências envolvendo 25.462 pessoas. Na sequência, todos são nordestinos: Paraíba, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Alagoas.
Conflitos no campo Brasil – Esta é a 37ª edição da publicação Conflitos no Campo Brasil, elaborada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) por meio do seu Centro de Documentação Dom Tomás Balduino. Editada pela primeira em 1985, a publicação se tornou referência nacional e internacional e instrumento fundamental de denúncia das violências cometidas cotidianamente contra os povos do campo, das águas e das florestas no Brasil. Na publicação, é possível encontrar dados sobre conflitos por terra, conflitos pela água, conflitos trabalhistas, trabalho escravo, tipos de violências contra a ocupação e a posse e tipos de violência contra a pessoa, como os assassinatos e as ameaças de morte. Também estão disponíveis na publicação diversos artigos e análises dos dados levantados.