Confira a carta final da 24ª Assembleia da Pastoral da Terra de Alagoas, realizada no Acampamento Batista, em Paripueira/Alagoas, entre os dias 2, 3 e 4 de abril de 2013.
“Terra dom de Deus, terra de Irmãos, terra para semear e colher”
Viemos dos recantos de Alagoas para refletirmos a conjuntura, aprofundarmos a nossa crença na esperança e planejarmos as nossas lutas. Estamos marcados pela estiagem!Sofremos com a falta de água da chuva e com a ausência de políticas sérias, que bem aplicadas poderiam amenizar a nossa dor e dos animais que criamos e temos visto morrer de sede e fome. Estamos vendo com desconfiança a obra do canal do sertão, anunciada como um atendimento aos mais pobres, essas obras pelo Brasil a fora têm suas águas sociais desviadas para atender a “sede do capital”. No mesmo sertão do canal, temos um imenso açude em Delmiro Gouveia, que foi construído com recurso público, através do DNOCS e foi privatizado, com cercas e vigias.
Os governos detêm tecnologia suficiente e confiável para prever as mudanças climáticas e a precipitação por longos períodos, no entanto não se organizam, para garantir aos que mais necessitam, as condições necessárias para enfrentar a estiagem. Utilizam o sofrimento do povo para angariar recursos, que na maioria das vezes não chegam aos atingidos, reeditando ou reinaugurando a indústria da seca.
... armazenem o trigo sob a autoridade do faraó e guardem os víveres nas cidades. Esses víveres servirão de reserva para o país, quando chegarem os sete anos de fome. Desse modo a terra do Egito não será exterminada pela fome. (Gênesis 4:35-36)
Somos um povo errante! Marchamos na fé com o pai Abraão! Acreditamos na promessa de Deus e lutaremos para recuperar a nossa terra, que é herança divina. No caminho da libertação encontramos os nossos inimigos que tentam nos humilhar, nos injuriar e promover o ódio contra a nossa luta e o nosso jeito de servir a Deus.
Começamos o ano sofrendo uma forte e intensa perseguição dos fazendeiros e usineiros de Alagoas contra os acampamentos de semterra. O Poder Judiciário e a polícia militar realizaram vários despejos violentos, utilizando uma força policial desnecessária com a intenção de intimidar a nossa luta e aniquilar a nossa esperança. Inclusive despejaram, de forma arbitrária, as famílias do acampamento Martins Afonso em Porto Calvo, sem a comprovação cartorial da posse do imóvel.
Enganam-se os que pensam que vamos recuar ou nos curvar diante das injustiças patrocinadas pelos “senhores da terra”. Honraremos a memória dos nossos mártires e continuaremos retomando a nossa terra, como fizemos em Martins Afonso em Porto Calvo e na fazenda São Sebastião em Atalaia.
Eles odeiam os que defendem o justo no tribunal e têm horror de quem fala a verdade. (Amós 5: 10)
Somos um povo da esperança! Vamos fomentar em nossa juventude a memória perigosa da luta camponesa e estimular a rebeldia, mantendo viva a nossa memória, nosso jeito de cultivarmos alimentos saudáveis e diversificados.
Queremos “ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca” (Amós 5, 24).
04 de abril de 2013, Herdeiros (as) da terra, reunidos (as) na 24ª assembleia da Pastoral da Terra, no Acampamento Batista, em Paripueira/Alagoas.