Frei Leonardo Boff, o bispo emérito de Goiás, dom Tomás Balduíno, o arcebispo de Curitiba, dom Moacir Vitti, o bispo diocesano de São José dos Pinhais, dom Ladislau Biernaski, e o presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, pastor Carlos Moller, apóiam a aprovação em primeira votação da Proposta de Emenda Constitucional que determina que o acesso à água seja serviço prestado apenas por empresas públicas.
“O Paraná foi corajoso e será referência para outros estados assumirem essa luta”, disse Boff. “É uma decisão sábia que vai de encontro com a própria natureza da água, que é um bem natural, vital e comum. Quem tem a gestão do bem comum é o bem público, e não o privado”, acrescentou. Segundo Boff, a água não pode virar mercadoria, porque a vida não é um bem comercializável. “Cabe ao Estado garantir que a água seja tratada conforme sua natureza, e não permitir que ela se torne uma commodity do mercado”, reforçou.
“No mundo todo, há uma corrida pela privatização da água, pois quem controla a água controla a vida, e quem controla a vida tem poder. Acho que o Paraná está de parabéns, pois vai contra a corrente dominada pelo neoliberalismo e pelo mercado, que mercantiliza tudo, inclusive a vida. Isso é a segregação dos direitos humanos e a perversão da economia, que é um meio para vida, e não o fim”, disse Boff.
“Esta medida é uma iniciativa de caráter humano, porque o acesso à água é um direito humano, e não uma mercadoria. A tendência do modelo neoliberal é privatizar a água para que ela se torne mercadoria, fonte de lucro. A única forma correta de levar água à população é por um órgão público”, afirmou dom Tomás Balduíno, também conselheiro da Comissão Pastoral da Terra da CNBB.
“Evidentemente, o governo tem de cobrar pelo serviço porque ele envolve gastos. Mas, se o serviço for feito por empresa privada, ela ainda deve gerar lucro, e os mais pobres serão obrigados a se privar de água tratada porque não terão como pagar. O Paraná deve ser tomado como exemplo para outros estados”, disse Balduíno. Ele fez questão de lembrar que, na Bolívia, a gestão da água por empresas privadas motivou a derrubada de um governo. “As empresas querem lucrar com um bem comum e vital para o povo”, finalizou.
O pastor Carlos Moller ressaltou que a Igreja defende a água como direito humano e bem público. “A decisão dos deputados do Paraná segue essa orientação de gerir água para todos e impedir que ela seja privatizada. Ela é muito bem-vinda, e reforça o compromisso de colocar a água na boca de todos, e não nos bolsos de alguns”, apontou.
“Como seres humanos, não podemos ficar alheios às dificuldades que muitas pessoas tem de obter água de boa qualidade. Devemos apoiar decisões governamentais que colocam a água no seu devido lugar, como esta no Paraná. Precisamos de órgãos que públicos conscientes e de esforços que possamos empreender juntos para o acesso a água de qualidade”, completou Moller.
Dom Moacir Vitti acredita que a água, um bem público, deve ser protegida pelo Estado, que tem a responsabilidade de zelar pelo povo e, por isso, pelo bem comum. “Todos têm direito de usar a água, de ter água para aquilo que é necessário em sua vida”, disse ele, que é integrante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O arcebispo lembrou do risco de exploração e monopólio quando a gestão da água é feita por empresas particulares. “É uma exploração causar falta de água a tantas pessoas que delam precisam. Isso é uma injustiça, ainda mais no Brasil, um país que tem água em abundância”, completou.
“A decisão é boa. Se o Estado cumprir seu dever de trabalhar para o bem comum, ele é o que melhor pode gerir a água e não deixar que ela seja inacessível para os pobres”, disse dom Ladislau Biernaski. “De certas coisas só o Estado deve cuidar, sobretudo o que se refere ao bem comum, caso da água”, argumentou.
18/06/2008 18:27:39