Estudo diz que o número de bois abatidos nos estados que formam a Amazônia Legal superou a marca de 10 milhões em 2007. Baixo preço do terreno atrai produtores e contribui para o desmatamento.
O boi invadiu a Amazônia. Estudos feitos pela Amigos da Terra, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), mostram que, no ano passado, pela primeira vez na história, o número de animais abatidos nos nove estados da Amazônia Legal ultrapassou 10 milhões de cabeças, quase metade do registrado em todo o país
O ritmo representou um aumento de 46% no volume de carne em relação a 2004, de acordo com o levantamento publicado em maio pela instituição. Todo esse plantel destinado aos frigoríficos para ser transformado em picanha, filés e outros derivados, inclusive os destinados à indústria no Brasil e em nove países importadores do boi nacional, nasceu em fazendas localizadas nas bordas da maior floresta tropical do mundo, boa parte delas em áreas desmatadas ilegalmente.
A invasão pecuária da floresta começou a ser percebida pela Amigos da Terra há cinco anos. Desde 2003, de cada quatro bezerros que começaram o processo de engorda para abate, três nasceram, pastaram e cresceram comendo o capim da Amazônia, considerado de elevada produtividade. Entre 2004 e 2006, as fazendas de pecuária na região foram responsáveis por 96% do crescimento do número de cabeças de gado do país, segundo os pesquisadores. Eles concluíram que foi a elevação da produção no Norte que permitiu ao Brasil se transformar no maior exportador de carne de boi no mundo, ultrapassando a Austrália em 2004. Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins são responsáveis por um terço do total de bovinos produzidos e exportados.
Custos
Segundo a Amigos da Terra, a pecuária na Amazônia tornou-se uma atividade lucrativa por causa do baixo preço do terreno. Cálculos do próprio Ministério da Agricultura mostram que atualmente custa menos investir na abertura de novas fazendas em áreas florestais do que recuperar pastagens antigas e degradadas. O investimento necessário para a derrubada de árvores com os correntões — método que utiliza tratores para arrancar as árvores, que depois são queimadas e transformadas em carvão — é menor do que o custo dos defensivos agrícolas e fertilizantes necessários para a melhorar antigos pastos de baixa produtividade. Cálculos feitos pelo Imazon mostram que reformar um pasto envelhecido custa R$ 2 mil por hectare, ao passo que para derrubar área de floresta, plantar capim e formar pasto novo são necessários apenas R$ 800 por hectare.
Entre 1990 e 2006, a produção de bois, vacas e bezerros na floresta amazônica passou de 18% para 36% do plantel nacional. “A pecuária é de fácil implantação, apesar do baixo rendimento. Por isso, ela é a segunda atividade a empurrar a fronteira agrícola Amazônia adentro, depois dos madeireiros”, analisa Roberto Smeraldi, pesquisador e um dos autores do trabalho da Amigos da Terra. Ele alerta para a transferência das fazendas de gado de regiões onde a terra é mais cara, como o Sudeste, Sul e Centro-Oeste, para o Norte, onde a terra ou é devoluta ou pode ser facilmente invadida. A transferência da pecuária do centro-sul para a Amazônia também é provocada pela substituição do gado pelo grão e pela produção de cana para o etanol, atividades destinadas à exportação e com rendimento dez ou 20 vezes mais elevado que a engorda de gado.
Fonte: Correio Braziliense