Em 1988, há 35 anos, nascia a Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2. No mês de agosto daquele ano, aproximadamente 80 agentes pastorais, religiosos, religiosas, leigos, leigas e lideranças comunitárias dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte decidiram levar adiante a realização da Assembleia do Setor Pastoral Rural da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Nordeste 2, mesmo após desautorização do então Arcebispo de Olinda e Recife e Presidente do Regional Nordeste 2 da CNBB, Dom José Cardoso Sobrinho.
Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2
A realização daquela Assembleia foi fruto da incompatibilidade entre uma Igreja conservadora e autoritária, defendida por Dom José Cardoso Sobrinho, e os valores de uma Igreja conectada com os anseios dos povos injustiçados. Dessa maneira, naquele agosto de 1988, nas dependências do Seminário Arquidiocesano da Paraíba, os então membros da Pastoral Rural tomaram a decisão de se constituir como mais um regional da Comissão Pastoral da Terra, já existente em outros estados do Brasil desde 1975. “O arcabouço subjacente à CPT NE2 e à CPT Nacional foi a Teologia da Libertação, que é a articulação do olhar da fé, da tradição bíblica e de Jesus, com o olhar da realidade, da injustiça e das desigualdades” comenta Padre Hermínio Canova, um dos fundadores da CPT NE2. Tratava-se, então, de uma ação inspirada no Evangelho e nas experiências de homens e mulheres comprometidos com o processo de libertação em uma região marcada pela opressão e espoliação, a América Latina.
Por atuar prioritariamente junto aos que clamam por justiça em contexto conflitos e violência no campo, a CPT Nordeste 2 ficou conhecida, desde a sua fundação, como uma Pastoral da fronteira, do risco ou do conflito. É condição de sua existência, portanto, atuar na defesa de direitos e contribuir com a organização das lutas de comunidades e povos do campo, das águas e das florestas para a transformação social, superação das injustiças sociais e para a construção de uma Terra Sem Males.
Passados 35 anos, a violência permanece sendo uma realidade dramática e cotidiana para milhares de camponeses e camponesas. Atualmente, a CPT Nordeste 2 acompanha cerca de 350 comunidades camponesas, correspondendo a mais de 14 mil famílias em mais de cem municípios nos estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. São posseiros, trabalhadores/as rurais sem-terra, quilombolas, pescadores, assentados da Reforma Agrária, pequenos agricultores, entre tantos outros povos e comunidades. Desse total, a metade é vítima de conflitos no campo, de violências, de negação de direitos humanos e encontra-se sob ameaça de expulsão de suas terras e/ou territórios.
Que a memória da luta e da caminhada do povo seja alimento para o compromisso de continuidade do nosso serviço. A marcha da esperança rebelde seguirá até que todos e todas vivamos num outro mundo possível, numa Terra Sem Males.
"Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança produz a fidelidade comprovada, e a fidelidade comprovada produz a esperança. E a esperança não engana”.
(Carta de São Paulo aos Romanos, 5.3-5)
Imagens: Assembleia de Fundação da CPT Nordeste 2, agosto de 1988. Acervo CPT NE2