Nessa segunda-feira, 13 de agosto de 2018, uma missa foi realizada na Basílica Nossa Senhora das Neves, na cidade de João Pessoa/PB, em homenagem aos 30 anos da Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2. Caravanas de camponeses e camponesas dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte – que compõem o Regional NE 2 da Pastoral – foram à capital paraibana e lotaram a Catedral para comemorar as três décadas de atuação da CPT em seus estados.
Durante a celebração, o altar da Basílica foi ocupado por alimentos produzidos pelas famílias camponesas e por uma cerca rompida, que simbolizaram a luta das comunidades pelo direito à terra e pelo direito de plantar e colher. A convocação para a luta contra as desigualdades e injustiças e em defesa da Reforma Agrária deu o tom à celebração. A indiferença de grande parte da Igreja para com a situação de violência, desigualdade e injustiça no campo também foi criticada durante a celebração pelo Padre Tiago Thorlby, um dos fundadores da CPT NE 2.
O Padre Hermínio Canova, também membro da CPT NE 2 desde a sua fundação, destacou a importância de a Pastoral fazer a memória de seus 30 anos. “Fazemos a memória do passado para viver o presente e acertar os caminhos para o futuro. Nesses 30 anos, fazemos a memória de todas as lutas difíceis, dos assassinatos, das prisões, do sofrimento que vivemos, mas também fazemos a memória de todas as alegrias pelas vitórias conquistadas. Por isso, estamos aqui também para agradecer”, afirmou. Padre Hermínio destacou ainda que a Basílica Nossa Senhora das Neves foi o local escolhido para a celebração dos 30 anos da CPT Nordeste 2 “porque essa Catedral guarda o corpo de dois grandes companheiros: Dom José Maria Pires e Dom Marcelo Carvalheira”, que sempre estiveram ao lado das lutas camponesas por terra e direitos.
Após a celebração na Basílica Nossa Senhora das Neves, camponeses e camponesas saíram em caminhada pelas ruas de João Pessoa. Levantando bandeiras ao vento, cerca de mil e duzentas pessoas, homens, mulheres e crianças, vindas de diversas comunidades dos quatro estados nordestinos, entoaram palavras de ordem e canções que falavam de suas lutas e sonhos.
O camponês Severino Rodrigues, do assentamento Nova Canaã, em Tracunhaém, Pernambuco, viveu anos de luta para conquistar a terra em que hoje vive. Durante a caminhada, o trabalhador agradeceu à CPT por acompanhar toda a luta e resistência do grupo de sem-terra do qual fazia parte. “Viva a CPT! Que ela esteja firme e resistente, presente na luta dos/as camponeses/as, que colocam o alimento na mesa do povo brasileiro”, ressaltou. Severino também lembrou de camponeses e camponesas que foram assassinados em conflitos por terra: “estamos nas ruas também para homenagear todos aqueles que tombaram na luta e que poderiam estar aqui conosco, nesta caminhada. Mas eles/as estão presentes nas nossas vidas, em nossos corações, nas ocupações, na nossa resistência e na nossa luta”.
Durante a caminhada, Tânia Maria, coordenadora da CPT Regional Nordeste 2 destacou que “nada mais poderíamos fazer nesta celebração do que ocupar as ruas e dizer ao povo da cidade que nós somos camponesas e camponesas e queremos dar os braços para mudar essa sociedade injustiça, queremos produzir alimentos saudáveis e combater o latifúndio. Nossas reivindicações são legítimas e justiças. Terra para quem nela trabalha”.
A caminhada encerrou na Praça dos Três Poderes, localizada no Centro histórico da cidade e conhecida por ser palco de ocupações históricas de organizações sociais do campo no estado da Paraíba. A marcha dos trabalhadores e trabalhadoras rurais não poderia terminar, por isso, em outro lugar, conforme ressaltou Frei Anastácio, deputado estadual da Paraíba e um dos membros fundadores da CPT NE 2. Na ocasião, o trabalhador rural Pedro da Silva Santana, do acampamento Mumbuca, em Murici/AL, conclamou os camponeses e camponeses para que não parassem a luta pela Reforma Agrária e que erguessem a cabeça para continuar enfrentando os desafios desta luta. Isolete Wichinieski, da coordenação Nacional da CPT, também saudou os/as participantes da caminhada, relembrando que frente às situações de violência provocada pelo latifúndio, pelo agronegócio, por grandes empresas e pelo próprio Estado brasileiro, responsáveis por milhares de expulsões de homens e mulheres do campo, é preciso “ficar firme como quem enxerga o invisível”.
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