Na onda da proteção mundial aos estoques nacionais de comida, o governo parece que vai sustar a exportação de arroz dos estoques que controla. Amanhã, deve "solicitar" às empresas que evitem vender o produto ao exterior. Por VINICIUS TORRES FREIRE
Ao contrário do que imaginavam os mais otimistas, este colunista inclusive, o preço da comida passou a subir mais. Algumas disparadas, como a de leite e derivados, arrefeceram, mas a carestia da mesa do brasileiro comum ficou algo mais generalizada.
Pãozinho, macarrão, frango e ovos subiram na casa dos 11% a 15% nos últimos 12 meses. A inflação geral do grupo alimentos está em 11% no período, contra um IPCA de 4,7%. Os preços dos feijões cresceram mais de 100%. O arroz ainda está em 7% nos últimos 12 meses.
O preço alto dos grãos pelo mundo fez até o Brasil começar a exportar milho. O arroz pode ir pelo mesmo caminho.
Mas o repasse dos preços mundiais para o mercado brasileiro é pequeno, ainda mais se comparado à crise do arroz na Ásia e à do milho na África. É claro que, numa situação de mercado ainda mais disparatada do que de hábito, alguma prudência em relação a estoques pode ser razoável. Porém, como fica claro no caso do feijão, ou como no caso do leite no ano passado, o problema nos preços muitas vezes não tem conexão direta com a escassez mundial.
Estudar problemas localizados de oferta, como o de produtividade (caso do leite), poderia ajudar a evitar soluções como a de controles rígidos do mercado, medidas que no médio prazo costumam dar em confusão, ineficiência e desestímulo ao produtor.
Folha de S. Paulo, 24/04/08.