Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Vinte anos de políticas agrícolas equivocadas, incluindo a concessão de generosos subsídios dos países ricos a seus fazendeiros, estão por trás da atual crise mundial de alimentos, a mais grave em mais de quatro décadas. A avaliação é de Jacques Diouf, diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

Preocupada com os altos preços dos grãos, que já ameaça a estabilidade de alguns países em desenvolvimento, a entidade convocou para o começo de junho uma conferência mundial sobre segurança alimentar, que terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo os organizadores. Nos documentos preparatórios do encontro, a FAO prevê que os preços dos alimentos continuarão altos nos próximos anos, e não poupa os biocombustíveis pelo fenômeno.

Segundo Diouf, a crise atual não pegou de surpresa a FAO, que vem alertando há anos para problemas como a falta de investimento em infra-estrutura nos países pobres e o excesso de subsídios nos países ricos, que torna economicamente inviável a produção agrícola em muitas partes do planeta. A crítica aos subsídios, principalmente da Europa e dos EUA, é a queixa mais freqüente do governo brasileiro nas negociações comerciais.

"Esta não é uma tragédia grega, em que o destino é decidido pelos deuses e os homens nada podem fazer. Não, nós temos capacidade de influenciar o futuro", disse Diouf. Para ele, todos os esforços devem ser concentrados para que a colheita em 2008 seja "um sucesso".

Aumento na produção

A previsão da FAO é a de que a produção agrícola tenha um aumento de 2,6% neste ano. Apesar de ser bem menor que o ritmo de crescimento de 2007, de 4,7%, Abdolreza Abbassian, alto economista na FAO, explicou que o volume na verdade será maior, já que os grandes países produtores devem ter bom desempenho. Com isso, já se vislumbra a queda no preço de alguns grãos, como o trigo.

Abbassian disse que não há como negar o peso dos biocombustíveis no aumento dos preços, mas isentou o álcool do Brasil. "A alta dos preços tem a ver com biocombustíveis, mas não o feito a partir da cana", disse o economista, que é secretário do grupo intergovernamental de grãos da FAO. "Tem a ver com a substituição de soja e trigo por milho nas plantações dos EUA".

Isso levou ao aumento nos preços da soja e do trigo, além de tirar milho do prato para colocar nos motores, causando escassez.

O economista indiano adverte que tudo depende do clima, mas há sinais de que os preços vão cair. "Se olharmos para o mercado de futuros, veremos sinais de forte queda nos preços do trigo", diz . "Acredito que teremos um certo alívio nos preços nos próximos meses, começando com trigo e depois levando a outros produtos".

Ninguém deve esperar uma queda significativa nos preços dos alimentos em uma única temporada, diz ele, porque os estoques estão baixos.

MARCELO NINIO, DE GENEBRA

Folha de S. Paulo, 24/04/08.

 

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