Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

As negociações sobre o clima mantidas nas últimas semanas em Copenhague fracassaram. Os governos do mundo se mostraram incapazes ou reticentes em realizar as mudanças necessárias para encontrar uma solução justa para o caos climático atual. As negociações foram marcadas pelos interesses individuais e as “soluções” de mercado, que até agora se mostraram ineficazes.

Josie Riffaud, uma das lideranças da Via Campesina, declarou: “O dinheiro e as soluções de mercado não vão resolver a crise atual. Necessitamos mudar radicalmente a maneira com que produzimos e consumimos, e isto é justamente o que não se falou em Copenhague”.

Os governos dos países industrializados e não industrializados demonstraram sua reticência em discutir o modelo de desenvolvimento que acarretou em desastres econômicos e ambientais. Foram incapazes de contribuir com soluções reais e comprovar que os mercados de carbono não resolverão a crise climática.

Não debateram nem consideraram os recortes drásticos de emissões (incluídos em um acordo vinculativo), a reorientação das economias de agroexportação, a Reforma Agrária e outras medidas que poderiam realmente contribuir para diminuir o aquecimento da terra. Mais uma vez, os governos atuaram individualmente de maneira egoísta e fracassaram em não considerar as alternativas reais oferecidas pelos movimentos sociais internacionais, grupos ecologistas, povos indígenas e outros para alcançar mais uma sociedade justa.

Apesar de o “acordo de Copenhague” não mencionar explicitamente a agricultura, parece que durante as duas semanas de negociações a Convenção-Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática quis incluir o solo entre os métodos para capturar carbono e incluir a agricultura na sua transferência de tecnologia, abrindo assim espaço às empresas transnacionais para receber subsídios com o fim de introduzir sementes transgênicas e métodos de agricultura industrial. Esta é exatamente a fórmula de desenvolvimento agrícola que nos levou à crise social e ambiental que sofre atualmente o campo.

A rua e os corredores do Bella Center foram testemunhas, no dia 16 de dezembro, do autêntico poder em Copenhague - quando os ativistas, grupos comunitários, movimentos sociais locais e internacionais e ONGs do Norte e do Sul pressionaram para se reunir em um “terceiro” espaço, simbólico, às portas do Bella Center.

A violenta repressão da polícia, incluindo a prisão preventiva de muitos dos porta-vozes do movimento “Climate Justice Action”, evidenciou o desespero dos governos na hora de silenciar as vozes que proclamam as autênticas soluções.

Não podemos esperar que os governos ofereçam uma solução mágica à crise climática. Sob os ditames das empresas transnacionais, limitam-se a perpetuar a especulação sobre o capital e fazer dos alicerces da vida seu mercado de valores.

Com o fracasso da COP15, os movimentos sociais internacionais estão mais preparados do que nunca para impedir o crescimento dos problemas do mundo, e se mobilizarão para a próxima conferência do clima que acontecerá no México no final de 2010. Chegou o seu momento e os governos não terão outra opção a não ser escutar-lhes.

Copenhague, 19 de dezembro de 2009,

Secretaria internacional da Via Campesina

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Rua Esperanto, 490, Ilha do Leite, CEP: 50070-390 – RECIFE – PE

Fone: (81) 3231-4445 E-mail: cpt@cptne2.org.br