No dia 1º de fevereiro, por volta das seis horas da manhã, um grupo de sete pistoleiros invadiu o Assentamento Alcobaça, no município de Breu Branco, Pará, e, fortemente armado, disparou contra os trabalhadores assentados, principalmente contra Manoel Francisco Silva Souza, o “Chico Dente de Ouro”. Manoel foi atingido na cabeça e apesar da tentativa de seus companheiros em querer salvá-lo, carregando-o em uma rede, acabou não resistindo e faleceu.
Os pistoleiros após constatarem que Manoel Francisco estava morto obrigaram uma criança a abrir a boca dele e tirar a sua prótese dentária com dente de ouro, alegando que seria para levar e mostrar aos seus patrões a confirmação de que realmente o “Chico Dente de Ouro” estava morto. Além disso, os capangas jogaram gasolina em pelo menos dez casas e atearam fogo queimando tudo, inclusive documentos pessoais de seus residentes. As cinquenta e oito famílias foram forçadas pelos pistoleiros a abandonarem o local com a ameaça de nunca mais retornarem. Todas estas famílias estão na cidade de Breu Branco sem ter onde ficar, algumas somente com a roupa do corpo, que foi o que sobrou do fogo.
Apesar de o trabalhador assassinado ter todos os documentos (CPF, Título de Eleitor e a Polícia ter, através de seu sistema, identificado o número de seu RG) ele foi sepultado com outro nome (nome de Cícero) e como indigente sob a alegação de que não possuía documentos. Os possíveis mandantes deste ato violento são os fazendeiros Vandeir e Gildásio, ambos residentes no município de Breu Branco.
Outras lideranças continuam sendo ameaçadas de morte, entre elas o senhor Domingos, pois segundo testemunhas, um pistoleiro já foi contratado por R$ 12.000,00 (doze mil) reais para matá-lo.
Histórico
No ano de 1998 o INCRA criou o Projeto de Assentamento Alcobaça e como a área não comportava todas as famílias, foi feita complementação do mesmo com partes das duas áreas onde hoje estão os dois fazendeiros. Estas duas áreas na época pertenciam a outros proprietários, que por não concordarem com a desapropriação feita, as venderam, mesmo após as famílias terem sido assentadas pelo INCRA. Os últimos compradores foram Gildásio e Vandeir que começaram a ameaçar os assentados.
Depois de várias ameaças feitas pelos pistoleiros, as 58 famílias assentadas abandonaram seus lotes. Entretanto, a partir do dia 20 de janeiro, elas começaram a se articular para retornar à área. Marcaram, inclusive, uma reunião com o INCRA para o dia 30 de janeiro, na Câmara Municipal de Breu Branco. O INCRA não compareceu e nem apresentou qualquer justificativa. As famílias decidiram então retornar para os lotes por conta própria. Ao retornaram os pistoleiros entraram em ação, matando Chico Dente de Ouro e expulsando as 58 famílias.
Espera-se que os culpados paguem pelos crimes cometidos e que o INCRA, que já desmarcou uma reunião que seria realizada hoje, 6 de fevereiro, com os assentados do Alcobaça, cumpra o seu papel sob pena de estar sendo o grande incentivador deste tipo de violência, ou no mínimo, cúmplice desta prática.
Equipe CPT Tucuruí – Pará.
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