Depois de cinco anos de muita luta e resistência, no último dia 14 de outubro, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi imitido na posse da área do antigo Engenho São João, onde se localiza o Acampamento Chico Mendes, um símbolo da luta pela terra no estado de Pernambuco. Com a imissão de posse, agora as 300 famílias que vivem e produzem no Acampamento Chico Mendes, serão definitivamente assentadas.
Essa é uma grande vitória para a Reforma Agrária, não só no Estado de Pernambuco, mas em todo o Brasil. Ela representa uma vitória da resistência do povo contra a concentração de terra. Por três vezes nesses cinco anos de luta, essas famílias foram violentamente
despejadas da área, tendo suas casas, suas lavouras e a escola de seus filhos destruída. Por três vezes essas famílias retornaram e voltaram a reconstruir suas vidas nessas terras que agora serão definitivamente delas, construindo o que se tornou um acampamento modelo em
Pernambuco.
Mas essa é também uma vitória simbólica contra o agronegocio e a expansão do monocultivo de cana-de-açúcar que arrasam a Zona da Mata Pernambucana, ambos representados pelo Grupo Votorantim, antigo “proprietário” da área. Com a retomada do investimento publico para a produção de cana-de-açúcar, o Grupo Votarantim voltou a se interessar pelas terras da antiga usina Tiúma, que estava falida e abandonada há quase 20 anos e se usou de todos os instrumentos possíveis para expulsar as famílias que já viviam na área abandonada.
A imissão definitiva da posse será comemorada pelas famílias e por todos aqueles que de alguma forma contribuíram para essa conquista, com um ato político e uma grande festa no dia 21 de outubro, a partir das 13hs, no Assentamento Chico Mendes. O presidente Nacional do INCRA, Holf Hackbart, o Superintendente Regional do INCRA de Pernambuco, Abelardo Siqueira, além de diversos parlamentares e representantes de organizações não-governamentais estarão presentes.
Uma historia de Luta e Resistência
Localizado no município de São Lourenço, entre a Região Metropolitana e a Zona da Mata Norte de Pernambuco, o Engenho São João foi ocupado pela primeira vez em 2004. O Engenho faz parte do complexo da Usina Tiúma, falida e improdutiva há mais de 20 anos. Mas com a
revalorização da cana-de-açúcar para produção de etanol, o Grupo Votarantim, “proprietário” da Usina, voltou a ter interesse na área. O Grupo entrou, então, com recurso de reintegração de posse e se recusava a receber as notificações do Incra, impedindo a vistoria da área.
Em julho de 2005, as 500 famílias que viviam no Acampamento há cerca de um ano e meio, sofreram um violento despejo que destruiu todas as casas e lavouras. O acampamento foi cercado por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco, a imprensa, parlamentares e representantes de entidades de direitos humanos foram impedidos de
entrar na área.
Mas apesar do trauma causado pela violência do despejo, em menos de um ano as famílias já estavam prontas para retornar à terra onde haviam morado e plantado. A área do Engenho São João foi re-ocupada durante a Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária, em abril de 2006. Em agosto do mesmo ano uma nova liminar de reintegração de posse ameaçou
as famílias de Chico Mendes de mais um despejo. O acampamento foi novamente cercado por mais de 500 policiais da tropa de choque, mas a resistência das famílias, que se recusaram a sair de suas casas, e negociações entre os governos estadual e federal evitaram o despejo.
Desde então as famílias viviam a insegurança de uma nova reintegração de posse. Grupos de direitos humanos lançaram uma campanha para pressionar o Grupo Votorantim a negociar a área com o Incra, mas a recusa da transnacional em negociar mantinha a ameaça constante de
despejo. Hoje, o agora não mais acampamento, mas sim ASSENTAMENTO Chico Mendes, prova que é possível produzir alimentos saudáveis para o povo, onde antes só se produzia açúcar e sangue.
Fonte: Setor de Comunicação do MST PE