CPT e MLST estão na Praça dos Martírios por tempo indeterminado
Nesta quinta-feira, 05 de setembro, sem-terra acompanhados por dois movimentos do campo estão realizando protestos no Centro de Maceió. Pela manhã houve uma passeata até a Praça dos Martírios, onde foi montado acampamento. À tarde haverá um ato de solidariedade no local.
Camponeses seguram faixa dos 20 anos do acampamento Bota Velha |
Ameaçadas de despejo, as famílias camponesas dos acampamentos Bota Velha, Mumbuca e Sede, localizados em Murici/AL, buscam uma solução definitiva para evitar o acirramento do conflito no campo que já dura duas décadas. As áreas são acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST).
Segundo Carlos Lima, coordenador estadual da CPT, instituição que acompanha as comunidades de Bota Velha e Mumbuca, durante 20 anos ocorreram inúmeras reuniões com diferentes gestões do governo estadual, sendo que há um ano, foi feita a promessa da aquisição das terras para destiná-las às famílias que ali moram. Entretanto, nada foi resolvido e o processo de reintegração de posse foi retomado.
Diante da iminência da execução da reintegração de posse nas áreas, CPT e MLST, juntos, protocolaram um ofício em caráter de urgência solicitando uma audiência do o governador Renan Filho. Os sem-terra procuram não apenas a intermediação do Governo do Estado de Alagoas no sentido de impedir a violência contra centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais, seus filhos e netos, mas, também, uma solução concreta para a situação.
Ato realizado pelo MLST junto à CPT em referência aos 16 anos do acampamento Sede, em 2018. |
Josival Oliveira, dirigente do MLST que está à frente do acampamento Sede há 17 anos, faz questão de destacar que aquelas terras antes improdutivas, após as ocupações por parte dos sem-terra conseguem subsidiar um impacto social positivo provavelmente maior do que a usina e é fonte do sustento de mais de 200 famílias, sem contar com os demais acampamentos vizinhos.
De acordo com os movimentos sociais, as terras em questão, pertencentes à massa falida da Usina São Simeão, foram arrendadas à Usina Santa Clotilde em 2005 e, posteriormente, tomadas pela Fazenda Nacional devido às dívidas da proprietária com INSS, companhia energética e débitos trabalhistas. Inclusive, muitos camponeses que hoje ali vivem, vieram do trabalho escravo nos canaviais.
“Constam documentos do Governo Federal, tanto no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) quanto no Ministério da Fazenda, que comprovam a verdade”, diz o panfleto distribuído pelos trabalhadores rurais.
Está previsto para 16 horas um Ato em Solidariedade às Famílias de Bota Velha, Mumbuca e Sede, na Praça dos Martírios. A manifestação pacífica contará com a presença de sindicalistas, religiosos, professores e apoiadores da luta dos camponeses acampados.
Grito dos Excluídos – Os sem-terra pretendem participar da 25º edição do Grito dos/as Excluídos/as, a ser realizado neste sábado, 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, com concentração a partir das 8h, na Praça Sinimbú. Lá haverá uma celebração ecumênica com a presença de religiosos de diferentes igrejas e crenças, em seguida, uma caminhada percorrerá a orla marítima. Porém, os dirigentes da CPT e do MLST deixaram claro que os trabalhadores rurais não vão “arredar o pé” da Praça dos Martírios até terem uma resposta positiva por parte do Governo de Alagoas.
Arcebispo de Maceió celebrou missa no acampamento Bota Velha
Arcebispo Dom Muniz visita o acampamento Bota Velha, em Murici/AL |
As famílias do acampamento Bota Velha têm recebido apoio de diferentes formas. A causa dos camponeses chegou a ser estudada em universidades, faz parte de projetos de colaboração internacional e foi motivo de celebração pela Igreja Católica. O arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes realizou uma celebração, em agosto, na escola do acampamento. Na ocasião, houve a visita à Casa de Farinha, construída com apoio da associação Pachamama Onlus, da Itália.
Durante a celebração, Dom Muniz falou em esperança e renúncia. O arcebispo criticou a acumulação de bens e resgatou a palavra de Cristo sobre a necessidade de renunciar. “Ele [Cristo] disse claramente que é preciso renunciar. (...) Eu não vou dizer o que é que preciso renunciar, pois todo mundo sabe o que alguns acumulam demais e que não levam para lugar nenhum. Cada um de nós precisa fazer essa análise”, falou.
Celebração no acampamento Bota Velha lota também reuniu camponeses de Mumbuca e Sede, na mesma área. |
Na ocasião, foi lida uma carta assinada pelo vigário há quase 10 anos em que ele apresentava preocupação com a possibilidade do despejo daquelas famílias do campo. Ao relembrar o documento, o Dom Muniz comentou que a conquista da terra representa trabalho digno e mencionou a importância da “solidariedade, compreensão dos outros, estar juntos sem medo nas horas de dificuldade”.
Para Dom Muniz, “a comunidade, manifestada na igreja – qualquer ela que seja – sempre tem que ter essa sensibilidade. Reunida em nome de Jesus Cristo, impulsionados pela nossa mãe Maria, a gente vai dando um passo para a construção da vida em abundância”. Estiveram presentes para prestar apoio às famílias camponesas, além do arcebispo, o pároco de Murici, Padre Geison Araújo, e representantes da paróquia, italianos da Associação Amici di Joaquim Gomes e da Pachamama e os professores universitários Cícero Albuquerque e Lúcio Verçoza.
Fonte: CPT Alagoas