Em uma demonstração de resistência e valorização dos saberes tradicionais, 14 grupos de mulheres agricultoras no Rio Grande do Norte, apoiados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), participaram de uma oficina de produção de remédios caseiros a partir de plantas medicinais. A atividade, que ocorreu nos dias 25 e 26 de maio, no Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Apodi, RN, contou com a participação de 30 mulheres.
Setor de comunicação da CPT NE2
Durante a oficina, as participantes aprenderam a preparar diversas receitas de remédios a partir de plantas medicinais, incluindo tinturas de mulungu, amora, colônia, cana do brejo e espinheira santa. Além disso, foram ensinadas técnicas para a produção de sal com ervas, xaropes para sinusite e gripe, bentomel e garrafadas.
Essa iniciativa reforça a importância da valorização dos saberes ancestrais e das práticas tradicionais de cura, especialmente num contexto de crescente industrialização e comercialização da saúde. Nesse cenário, as mulheres agricultoras são guardiãs de conhecimentos milenares, fruto da observação cuidadosa da natureza e da sistematização de seus usos.
Ana Maria Gomes, do assentamento Professor Maurício de Oliveira, situado em Assu-RN, destaca a importância do encontro para ampliar a produção de plantas medicinais e disseminar os saberes ancestrais sobre a Caatinga. "É da Caatinga que tiramos as nossas curas, para crianças, mulheres e homens. Vamos buscar mais sabedoria e cura na Caatinga. Lá fazemos o resgate, trazemos para o nosso quintal e, no quintal, fazemos as garrafadas, as pomadas, os lambedores. Isso é muito importante para todas nós", afirmou.
A agricultora Aparecida de Maria, da comunidade Maria Cleide, município de Governador Dix-Sept Rosado, também reforça a importância do cultivo das plantas medicinais e dos remédios produzidos a partir delas. “Faço muito lambedor e garrafadas em casa. Remédio de farmácia por uma parte serve, mas por outra não. Remédio das plantas medicinais não faz mal, só faz o bem”, ressalta.
Hilberlândia Andrade, agente pastoral da CPT, avalia que o encontro foi muito positivo por reunir mulheres de diversas comunidades para aprofundarem os conhecimentos sobre o tema, mas ressalta que os saberes e conhecimentos já estão presentes nas comunidades, devendo ser valorizados e ampliados. "O quintal produtivo com as plantas medicinais é um espaço vivo onde as mulheres têm uma riqueza imensa trazida da caatinga, resgatada dos pais e dos avós. A oficina foi um momento de somar e juntar, mas essa sabedoria já está nas mulheres, está no campo, está na luta pela terra", afirmou.
A oficina foi realizada pela CPT, contou com o apoio da Fundação Interamericana e participação do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi e de representantes de comunidades apoiadas pela Diaconia. Com a atividade, a expectativa é que mulheres das comunidades possam não apenas ampliar o cultivo de plantas medicinais em seus próprios quintais produtivos, mas também praticar as receitas de remédios caseiros, tornando-se multiplicadoras para outras agricultoras da região.
As agricultoras que participaram da atividade são oriundas das comunidades: Arthur Sabino e Professor Maurício de Oliveira, situadas em Assu; José Sotero, Nove de Outubro e São José, situadas em Caraúbas; Terra de Esperança e Chico Rego, no município de Governador Dix Sept Rosado; Várzea do Barro, de Umarizal; São José, de Caraúbas; Paulo Canapum, Sítio de Góis, Acampamento Edivan Pinto, Acampamento Santa Catarina, Baixa Fechada, situadas na Chapada do Apodi.