Nessa terça-feira, 22, cerca de 120 camponeses e camponesas apoiados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Recife. A mobilização reuniu representantes de diversas comunidades da Mata Norte de Pernambuco, com o objetivo de pressionar a autarquia a acelerar processos de vistorias e desapropriação de imóveis destinados à Reforma Agrária. “Estamos aqui porque queremos uma posição do Incra, a gente vive em conflito e queremos a nossa terra para plantar e viver feliz”, explicou a agricultora Dilvanize Ramos, da comunidade São Bento, situada em Itambé.
Setor de comunicação da CPT NE2
As famílias foram recebidas na parte da tarde pelo superintendente do Incra, Givaldo Cavalcante, pelo superintendente substituto, Joilson Costa, e pela ouvidora agrária nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Claudia Dadico. Entre as comunidades presentes estavam Padre Tiago, situada no antigo Engenho Una, em Moreno, e as comunidades de São Bento e Gongo, ambas localizadas no município de Itambé. Esses grupos enfrentam, há anos, conflitos fundiários e ameaças de despejo e exigem ações efetivas do Incra para garantir o acesso à terra e a implementação da Reforma Agrária.
Compromissos assumidos pelo Incra - Durante a audiência, os(as) representantes das comunidades obtiveram compromissos importantes por parte do Incra. Foi garantido que as vistorias no Engenho Una, onde está situada a comunidade Padre Tiago, terão início em novembro deste ano. Para a comunidade de São Bento, o cadastro das famílias já foi concluído, e o Incra se comprometeu a notificar ou negociar com o proprietário do imóvel até o dia 11 de novembro. No caso da comunidade Gongo, a vistoria será realizada após a conclusão dos procedimentos no Engenho Una, com previsão de início para o começo de 2025. Além disso, o Incra anunciou a reativação da comissão de obtenção de terras, que estava suspensa há anos. A decisão foi tomada após repetidas mobilizações de comunidades camponesas e de movimentos sociais em defesa da Reforma Agrária.
Famílias seguirão vigilantes na luta pela Reforma Agrária - As famílias celebraram os compromissos obtidos, mas deixaram claro que permanecerão em vigília e continuarão organizadas para garantir o cumprimento das promessas. O agente pastoral da CPT Plácido Junior avaliou positivamente os anúncios e reafirmou que as famílias permanecerão mobilizadas para assegurar os avanços na Reforma Agrária. “Se queremos ajeitar este Brasil, teremos que fazê-lo com as nossas próprias mãos, porque só a classe trabalhadora e o campesinato podem construir o Brasil que queremos e merecemos.”
A ocupação da sede do Incra faz parte de uma longa trajetória de mobilização de centenas de famílias camponesas posseiras na Zona da Mata de Pernambuco que há anos enfrentam violências e conflitos agrários. Esses conflitos envolvem usinas falidas, com débitos milionários, e grandes empresários da pecuária acusados de participar de esquemas de lavagem de terras. Vivendo e cultivando essas terras há gerações, as famílias lutam pelo fim da violência e, principalmente, pelo direito de permanecer na terra.