O Engenho Una, em Moreno-PE, agora batizado de “Comunidade Padre Tiago Thorlby”, viveu momentos de muita emoção e de boas lembranças das lutas e especialmente, saudades de um dos seus mais abnegados companheiros, o Padre Tiago.
Logo nos primeiros raios de sol intenso, o café da manhã, com a mesa cheia de frutas, pães, macaxeira, café e leite, para recepcionar os amigos, amigas e a companheirada de diversas comunidades que vieram para lembrar das lutas e do querido Padre Tiago, da CPT, que chegava sempre com alegria e entusiasmo naquele lugar - seu espaço especial de presença.
Após o café comunitário, fruto da colheita coletiva da comunidade, seguiu-se para a tenda onde tinha fotos de diversos lutadores e lutadoras, que colocaram suas vidas a serviço do outro e da outra, e, da causa da libertação. Estavam ali, Dom Hélder, Francisco Julião, Dom Tomás Balduíno, Margarida Alves, Ir. Doroth Stang, Chicão Xukuru, Gregório Bezerra e outros e outras lutadoras, que ali estavam, com Padre Tiago, lembrados como inspiração aos presentes e futuras gerações para continuarem a luta por um novo mundo e um novo tempo de justiça e igualdade entre todas as pessoas.
Em destaque, o cartaz com uma fotografia e frase do Padre Tiago. Segundo a sua companheira Marluce Melo, “era a foto que ele mais gostava”, com ele sorrindo, com a sua contagiante alegria de semear sementes de luta e amor nas comunidades rurais. A frase, uma de suas preferidas, diz: ”No fim dos tempos, a pergunta não vai ser se fomos membro de um movimento ou igreja. A pergunta será: como amaste o teu irmão, tua irmã? Eu estava sem terra: me ajudaste a nos unir, a nos organizar?”
Diversas lideranças das comunidades, da CPT e lideranças religiosas falaram na atividade. O Pastor Ciro Reis, Igreja Sião, em Moreno, fez uma reflexão da Epístola de Tiago ressaltando que Deus escolheu os pobres, e sem obras para os pobres a fé está completamente morta. Há necessidade de obras que comprovam a autenticidade da fé. Posteriormente, o Padre Manoel da Paróquia de São José de Abreu e Lima, lembrou histórias vividas com Padre Tiago e refletiu sobre o sentido do viver em luta pela terra e pela vida.
Disse o Padre Emanoel ao lembrar o amigo e companheiro de lutas Padre Tiago: “é sentir sua presença nesse momento de comunhão, de união entre as comunidades que lutam pela sua terra e por uma vida de justiça e igualdade”. Para ele, Tiago ensinou a partilhar sua vida de cristão no meio do povo sem-terra, como em Abreu e Lima, em Pitanga I, Pitanga II e em outras comunidades e estava ali sorrindo naquele momento de um ano de saudade.
Encerrando essas reflexões era a hora de pegar as pedras pelo caminho e subir o Monte Sagrado, um dos lugares preferidos do Padre Tiago, pela caminhada e paisagem. Na frente Benoni, ia com seu violão cantando e puxando com entusiasmo a música que se mantém na memória dos lutadores contra a ditadura de 64 no Brasil, “(...) vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer (...)”.
No alto, reuniram-se os/as representantes das comunidades de Itambé: do Gongo, Paraguaçu, São Lourenço e São Bento; de Tracunhaém: Chico Mendes, Ismael Felipe e Nova Canaã; de Aliança: Belo Horizonte, Dom Helder e Mariano Sales; de Lagoa de Itaenga, Sítio Marreco; e da Mata Sul, de Jaqueira: a comunidade de Fervedouro. Eles/elas formaram uma grande roda e falaram dos desafios e lutas que estavam enfrentando. Ao final, colocaram pedras numa tuia de terra no formato de cone, no centro da roda e gritaram: “Padre Tiago, ontem, hoje e sempre. Presente, Presente, Presente!”. Assim, iniciou-se a construção do monumento dos mártires. A ideia é que aconteçam mais caminhadas para o Monte Sagrado e outras pedras sejam colocadas. Na ocasião também foram plantadas árvores nativas da Mata Atlântica.
Na descida, diante do cansaço da subida e do intenso calor, muitos disseram: “pra descer todo santo ajuda” e, sob o canto dos pássaros e os assobios dos ventos, seguiram até a sede da associação, para o almoço.
Antes do almoço as crianças da comunidade Padre Tiago realizaram o plantio de árvores, na frente da escola, como um gesto concreto de esperança na caminhada. Na sequência foi inaugurada a placa, com a definição do nome do lugar, do Engenho Una em “Comunidade Padre Tiago Thorlby” com a seguinte inscrição: “Carpe Diem – Agarre o dia, viva intensamente o dia com garra e coragem. Engenho Uma, Moreno-PE”.
Diante do descerramento da placa, Marluce, companheira do Padre Tiago, falou "que é compromisso muito grande colocar o nome da comunidade de Padre Tiago” e Plácido Júnior, da CPT, emendou lembrando que o Padre Tiago afirmou que não queria placas de homenagem, “porém, aprendemos com ele que a gente precisa ser teimoso, então, teimamos, colocando seu nome nessa comunidade”.
Após o almoço, ficaram os abraços, a confraternização entre os presentes e a lembrança da trajetória do Padre Tiago nos nossos corações e mentes.
Nas palavras do escritor sertanejo Guimarães Rosa de que “as pessoas especiais não morrem, se encantam”, lembramos a presença de Padre Tiago, encantado no meio das comunidades em luta pela terra, pela vida plena e pela libertação do povo trabalhador do campo e da cidade.
Texto e imagens: Roberto Arrais