Edvaldo Bezerra de Andrade, o Cobra Preta, nascido em 1938 na comunidade Varzinha dos Quilombolas, Sertão de Pernambuco, é um homem-narrativa que por meio de seu testemunho mantém viva a memória de uma ancestralidade. Sua fala provoca o resgate da identidade de um povo que, pela história oficial contada, chegou ao Brasil durante o processo de colonização. Em uma conversa com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ainda em 2014, disse: “minha mãe sempre falou que a avó vivia no cativeiro e ela sempre dizia que quando o negro não fazia o que o patrão gostava, o negro apanhava muito no cativeiro”.
Resgatar a história do seu povo e valorizar sua cultura parece ser uma preocupação de Cobra Preta expressa em sua narrativa e em seus versos. Versos que tive o prazer de ver em manuscritos no mesmo dia da conversa que ele manteve com a CPT. Naquela data, já falava da vontade de publicizar o que agora o público passa a conhecer como o livro “Valores da Terra”, e o que Conceição Evaristo chamaria de escrevivência.
A proposta do livro, escreve a professora Rosângela Pereira Queiroz de Melo na apresentação da obra, brotou “das agruras vividas pelo humano e não pedem licença, não precisam de métrica perfeita para expressar mais do que os olhos registram, o que só a alma alcança”.
A importância do livro, que contou com o apoio de alguns amigos e amigas do poeta para que seus manuscritos viessem a se tornar públicos, se destaca quando enxergamos que os versos que resgatam a memória do povo quilombola são escritos pelo próprio povo. É um livro que expande a cultura quilombola e manifesta a herança de um povo que marcou sua contribuição à história do país com seus valores e sua resistência, além de dialogar com o seu tempo e sua região. “Eu admiro demais / As coisas da natureza / Como o canto do carão / No recanto da represa / O grito da saracura / E chorado da burguesa”.
Com os versos agora públicos, poderemos conhecer melhor a história de Cobra Preta, e era isso o que nós almejávamos: pela sua voz, entender mais um pouco da nossa região, entender a resistência de um povo que luta para manter suas tradições e, sobretudo, celebrar suas conquistas. Porque o livro “Valores da Terra” é uma maneira de celebrar as conquistas de um povo que fez e faz história.
Para adquirir o livro, entre em contato:
Denis Venceslau Bevenuto – agente pastoral da CPT Sertão do Pajeú (PE)