Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Um grupo de nove camponeses registrou Boletim de Ocorrência na delegacia de Jaqueira, Zona da Mata Sul de Pernambuco, no qual denunciam terem sido vítimas de tentativa de atropelamento praticada por empresário da Agropecuária Mata Sul S/A, no último dia 23 de abril. O relato da violência também foi encaminhado à Comissão pastoral da Terra.

Segundo a denúncia encaminhada pelos camponeses, por volta das 12hrs daquele dia, “Guilherme Maranhão [empresário da Agropecuária Mata Sul S/A] cruzou com um grupo de agricultores que estavam voltando a pé para a sede do Engenho. O pessoal abriu caminho para ele passar com seu carro. Depois de passar, ele parou e olhou para trás. Foi nesse momento que ele engatou a marcha ré a acelerou o veículo pra cima dos agricultores”. À CPT foi dito ainda que o empresário, que na ocasião dirigia uma Toyota, realizou a manobra mais de uma vez para atingir os camponeses. O grupo acredita que só não houve desfecho trágico porque conseguiu escapar com rapidez da tentativa de atropelamento. Outras pessoas que transitavam pela via testemunharam o episódio.

Esse é mais um fato que compõe um extenso conflito fundiário na zona rural do município de Jaqueira e que já dura mais de dois anos. De um lado, a empresa Agropecuária Mata Sul S/A, arrendatária das terras da já desativada Usina Frei Caneca. Do outro, centenas de famílias camponesas posseiras que vivem no local já há vários anos. Apesar de temerem novas ações de violência por parte da empresa, os/as camponeses/as asseguram que resistirão a essas e a outras ameaças as quais visam à retirada das famílias da terra alvo de disputa.

Entenda o conflito - A empresa Negócio Imobiliária S/A é arrendatária das terras da já desativada Usina Frei Caneca há cerca de dois anos. A empresa, contudo, não trabalha no ramo da cana-de-açúcar. Atua na atividade pecuária. São cerca de 5.000 hectares localizados no município de Jaqueira que estão arrendados para que a empresa crie gado, o que representa cerca de 60% de todo o município de Jaqueira.

Na área arrendada pela empresa Negócio Imobiliária S/A, vivem aproximadamente cinco mil e trezentas pessoas distribuídas nas comunidades: Caixa D’água, Barro Branco, Laranjeira, Fervedouro e Várzea Velha, além de outras comunidades. Este número chega a ser quase a metade da população da cidade de Jaqueira, cujo número de habitantes, segundo o IBGE, é de 11.501.

Desde que chegou ao local, a Negócio Imobiliária S/A passou a ameaçar as famílias que vivem nessas comunidades. Os camponeses e camponesas relatam situações de intimidações, destruições e queimadas de lavouras, destruição e contaminação de fontes d'água, ameaças, perseguições e esbulho de suas posses.

O conflito na região já foi denunciado ao Ministério Público Estadual, ao Incra, ao  Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (Iterpe), à Prefeitura Municipal de Jaqueira, à Câmara de Vereadores e Vereadoras do município, à Diocese de Palmares e a Deputados e Deputadas Estaduais. O poder judiciário também foi alertado acerca das atitudes truculentas e ilegais da empresa.

 

 

 

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