As famílias camponesas dos assentamentos que fazem parte do Complexo Prado, localizado no município de Tracunhaém, viveram, no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, um dos mais prolongados e violentos conflitos por terra na Zona da Mata do estado de Pernambuco. Ontem, no entanto, dia 23 de novembro de 2016, jovens, homens, mulheres e crianças desses assentamentos estiveram reunidos para relembrar, não os momentos de dificuldades, mas sim um dos momentos de alegria mais marcantes de suas histórias, fruto da incansável disposição para a luta: há exatos onze anos, o Incra recebia a imissão na posse da área onde hoje estão localizados os assentamentos Ismael Felipe e Chico Mendes, parte do Complexo Prado.
Na sede da associação de um dos assentamentos, houve atividade organizada pelos jovens, com místicas, dinâmicas e apresentação de um jornal popular cujas principais notícias faziam referência à memória da luta pela terra das famílias dos Prados. Integrantes da comunidade e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) também foram entrevistados pelos jovens durante a apresentação do jornal popular.
Para Severino Rodrigues, camponês que vive em um dos assentamentos do Complexo Prado, os desafios enfrentados pelas famílias, mesmo depois de tantos anos com a terra conquistada, ainda são muitos. Falta de assistência técnica, de água e de incentivos à produção camponesa são algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos assentados e assentadas atualmente. No entanto, ressalta o camponês, "com a terra conquista, hoje somos donos de nós mesmos. Nem somos o patrão, nem somos mais sujeitos ao patrão. A luta continua com grandes desafios, mas hoje olhamos para a frente e vemos a liberdade".
História da luta e conquista da Terra - Os Assentamentos do Complexo Prado são os frutos da luta de dezenas de famílias sem terra que ocuparam as terras do Grupo João Santos, em 1997, na zona da mata norte do estado. Desde então, as famílias que reivindicavam a desapropriação das áreas se tornaram vítimas de inúmeros casos de violências. Foram realizados despejos violentos, ameaças, perseguições, destruição das casas e lavouras, que ocorriam como forma de intimidar e combater a resistência dos trabalhadores e trabalhadoras. Mesmo diante de tantas dificuldades e violências vividas durante o conflito com a Usina Santa Tereza, pertencente a um dos grupos econômicos mais poderosos do Nordeste - o grupo João Santos, as famílias guerreiras do Prado seguiram firmes em seu propósito de ver a Terra partilhada. Uma parte da área reivindicada foi desapropriada ainda em 2003, dando origem ao assentamento Nova Canaã. No entanto, a maioria das famílias permaneceram acampada nos demais Engenhos da Usina, tendo a imissão de posse garantida finalmente em 23 de novembro de 2005.
Nas terras pertencentes ao grupo João Santos, onde antes só havia cana-de-açúcar e devastação ambiental, hoje é possível encontrar uma produção diversificada de alimentos produzidos de forma saudável, sem utilização de agrotóxicos: Inhame, macaxeira, jerimum, batata, feijão, milho, frutas, plantas medicinais e produção de animais de pequeno porte. Todos os alimentos são produzidos de forma orgânica e abastecem as feiras livres de municípios vizinhos.
Imagem: Plácido Júnior/CPT
Fonte: Comissão Pastoral da Terra - Regional Nordeste II