Balas de borracha, pray de pimenta, agressões físicas e detenção. Foi dessa forma que os Policiais Militares agiram no último dia 13 de maio, durante a realização da Festa da Mãe Preta, celebração mais tradicional da comunidade quilombola de Castainho, localizada no município de Garanhuns/PE. Acompanhe a seguir o relato feito pela fisioterapeuta e residente em saúde da família, Ângela Pereira, que estava no local.
13 DE MAIO NÃO É DIA DE NEGRO!
O que era pra ser uma noite de alegria do 1º dia da 31ª festa da Mãe Preta (2016), festa que acontece, continuamente, desde 1986 em homenagem a uma senhora idosa chamada de mãe preta na Comunidade Quilombola de Castainho, localizada em Garanhuns, transforma-se em mais um episódio de violência policial contra negros e pobres, resultando num final de festa cheio de muita tensão e muito abuso de autoridade!!!!
Um efetivo de policiais militares solicitados por liderança comunitária para dar segurança à festa foi abordar um quilombola que estava com o som do carro ligado, nem tão alto, para que este desligasse. Pela forma da abordagem do policial, o homem recusou-se desligar o som. Outro quilombola disse ser oficial do exercito e mostrou suas credenciais, em seguida recebeu um tapa no peito, ficando o local bastante vermelho. Este quis reagir sendo contido por vários familiares e conhecidos. Outro quilombola disse alguma coisa ao policial, daí em diante os policiais foram em cima desse quilombola para prendê-lo. Os policiais jogaram spray de pimenta e dispararam bala de borracha entre os quilombolas que cercavam o acontecimento. Alguns comunitários começaram a filmar, uma quilombola que é bacharel em direito teve seu celular tomado por um policial e pisado. Um rapaz que estava mais distante, sem fazer nada foi chutado. Outras pessoas conseguiram filmar o ocorrido.
Prenderam um dos quilombolas e colocaram numa viatura, várias pessoas argumentaram que eles estavam abusando de poder. Quando alguns policiais souberam que entre os quilombolas havia uma advogada, demonstraram algum receio. Cheguei a conversar com o comandante do grupo, mas os argumentos sempre seguiam no sentido de culpabilizar o comunitário e de tentar fazer convencer que a reação ocorrera porque houve um desacato de autoridade.
Um deles percebendo que estavam errados chamou a equipe de policiais para ir embora e saíram levando o quilombola. Alguns carros e motos da comunidade seguiram a viatura em direção a delegacia com medo de que algo mais grave acontecesse como por exemplo uma retaliação com retirada da vida.
O quilombola levado para a delegacia foi liberado depois de ser autuado. O quilombola que é oficial do exército e que foi a delegacia para denunciar o abuso de poder e dar suporte ao que foi preso e conduzido ao quartel.
A comunidade promete se organizar para se contrapor ao inaceitável abuso de poder de policiais que agiram de forma truculenta.
Assista ao vídeo produzido por integrante da comunidade, a bacharel em direito Edivane Lopes Isidio, que foi agredida na hora em que gravava as imagens: https://youtu.be/n9G0Qj4ytuI