Com a ocupação da Casa Grande do Engenho Una, - pertencente à Usina Bulhões e localizado no município de Moreno/PE- as famílias de posseiros que vivem no local conseguiram mostrar as provas das inúmeras denúncias feitas contra a Usina Bulhões e que diziam respeito à contaminação do meio ambiente pelo uso de agrotóxicos e também à presença de milícias privadas que intimidavam os moradores do Engenho.
Milícia armada e ameaças contra moradores do Engenho
Durante ocupação da Casa Grande, realizada no dia 1/09 por trabalhadores ligados ao MST e por famílias que vivem no Engenho, acompanhadas pela CPT, foi encontrada uma espingarda calibre 12, atribuída à milícia privada da Usina. Segundo uma das moradoras, “a gente já vez várias denúncias de que havia capangas armados da Usina dentro do Engenho causando conflito e amedrontando todos os moradores e era na Casa Grande que eles se reuniam e depois saiam pra nos intimidar”. A arma encontrada no local foi entregue pelos trabalhadores à Polícia Militar. Também foi relatado aos membros da CPT que após a ocupação da Casa Grande, uma das moradoras do Engenho tem sido alvo de ameaças mais intensas. Segundo relatos, os moradores teriam ouvido um dos vigias da Usina afirmar que se disponibilizaria a “ir atrás da cabeça da mulher”, caso o proprietário assim desejasse.
Agrotóxicos
Outro fator que causou espanto foi o grande volume de embalagens de agrotóxicos que após serem utilizados pela Usina eram jogados, sem nenhuma segurança, em pequenos cômodos localizados ao lado da Casa Grande. “Quem passa por aqui já sente logo o cheiro de veneno e bate logo dor de cabeça”, comenta um dos trabalhadores sem terra que encontra-se acampado no local. A utilização ilegal e/ou irregular de agrotóxicos pela Usina Bulhões também já tinha sido alvo de denúncias feitas pelos moradores dos Engenhos aos órgãos públicos, especialmente no que dizia respeito à contaminação dos leitos de água por conta de aplicações de agrotóxicos.
Outro morador que vive no local enfatiza que todos esses fatos não são novidades para as famílias que vivem no Engenho Una, mas espera que a partir desta comprovação e das provas à disposição dos órgãos públicos, possa contribuir para agilizar o processo de desapropriação da área para fins de Reforma Agrária, pondo um fim ao conflito agrário no local.
Conflito no Engenho Una
No local vivem cerca de 35 famílias moradoras do Engenho, quase todas nascidas e criadas no local, que vivem sob ameaça de expulsão pela Usina Bulhões, proprietária do Engenho. A situação de conflito na área já foi alertada e é de conhecimento dos órgãos governamentais desde dezembro de 2011, quando os moradores, em conjunto com a CPT, reivindicaram do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a desapropriação do imóvel para fins de Reforma Agrária.
No entanto, foi a partir do início deste ano que o conflito se intensificou. De lá até agora, três lideranças do Engenho já sofreram ameaças, já foram realizadas denúncias de mílicas armadas que promoviam perseguições, intimidações até dentro de ônibus escolares, bloqueio das estradas, toques de recolher. Já foram realizadas diversas Audiências envolvendo os moradores e o Incra, MPPE, MPT, Iterpe, Secretaria de Direitos Humanos, bem como vários outros órgãos no âmbito Federal e estadual. Para os moradores, a intensificação da violência por parte da Usina é uma forma de expulsar os moradores do local e evitar a organização das famílias no processo de reivindicação do direito a Terra. De acordo com um dos trabalhadores, que preferiu não se identificar por receio de retaliações “Esta ocupação está sendo muito importante. É a possibilidade de sairmos da escravidão que a gente vivia antes para viver livremente. Será a nossa liberdade", responde.
Imagens: Plácido Jr/CPT