Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Começou ontem, dia 21, e vai até a próxima sexta-feria, dia 23, na cidade de Carpina/ PE uma atividade que marca as mobilizações e luta  pelos direitos, terra e território no Estado: o I Encontro Pernambucano da Unidade Camponesa. A atividade reúne representantes de diversas organizações sociais do campo de todo o estado para definirem estratégias de lutas unificadas e de enfrentamento aos novos desafios da conjuntura agrária em Pernambuco.

Em entrevista, Plácido Júnior, da Comissão Pastoral da Terra, destaca a importância da realização deste encontro e de todo o processo de construção de lutas camponesas unificadas que acontece no Brasil em 2012. O período marca os 51 anos da realização do I Congresso do Brasil, realizado em novembro de 1961, na cidade de Belo Horizonte/MG. Confira a entrevista: CPT: Qual a importância da realização do I Encontro Pernambucano da Unidade Camponesa para Pernambuco?

 

Plácido Júnior: O I Encontro Pernambucano da Unidade Camponesa tem uma importância muito grande nesta conjuntura tão difícil para os camponeses e camponesas. Embora seja um encontro que reúna as lideranças e dirigentes das organizações do campo, ele é um marco importante para o Estado, pois possibilitará pensar o campo de forma unificada, dando ênfase na sua diversidade. São índios, quilombolas, pescadores, sem terra, assalariados, atingidos por barragens, camponeses e camponesas do Estado socializando suas angústias e também suas esperanças. Não havia momento melhor para acontecer este encontro: esta atual conjuntura de crescimento econômico de Pernambuco, em que o Estado e o capital passam por cima do campesinato. Além disso,  é uma resposta ao capitalismo que avança no campo, é o anúncio do que esses povos podem fazer na construção de uma nova sociedade.

 

CPT: O que motivou esse processo de unidade das lutas sociais e a realização do Encontro em 2012?

P.J: Foram vários os fatores que motivaram a realização deste Encontro. Podemos destacar alguns, sem ordem de prioridade. Primeiramente, ressaltamos a  atual conjuntura em que a Reforma Agrária está paralisada, onde das 109 comunidades quilombolas do estado apenas duas foram demarcadas, onde os povos indígenas não têm sua reivindicações atendidas e os pescadores artesanais estão em luta pela garantia dos seus territórios. Ou seja, neste momento em que o Estado anda cada vez mais de mãos dadas com o capitalismo, é preciso que os povos do campo se dêem as mãos para possam se contrapor a essa lógica de crescimento econômico, a esta lógica de sociedade que não leva em conta a soberania nacional e abre as portas do país para as empresas lucrarem as custas do sofrimento no nosso povo.

 

Outro fator que destacamos é que, há exatos 51 anos, houve o I Congresso Camponês do Brasil. Para celebrar o momento, as organizações sociais do campo realizaram em Brasília, no mês de agosto, o Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas. Este encontro estadual que estamos realizando  hoje é fruto do compromisso assumido de dar andamento as lutas camponesas e às diretrizes do Encontro Nacional. É um momento importante de reflexão e construção de uma pauta comum, levando em consideração toda diversidade do campo.

 

Em terceiro lugar, passamos por um momento particular no Nordeste, que vive assolado pela seca. Este é o momento de denunciar os Grandes Projetos de irrigação, açudes, transposição do Rio São Francisco que não resolve a situação do Povo Nordestino e só serviu e serve para a acumulação do capital pelas grandes empresas. Ao mesmo tempo também é o momento de insistir e de encarar esta questão associada ao debate da convivência com o semiárido, que vai muito além de programas emergenciais, que são importantes neste momento, mas que não resolvem o problema. As comunidades e as organizações do campo já acumularam muitas experiências que deveriam ser fortalecidas para pensarmos os camponeses e as camponesas convivendo com o meio em que vivem de forma digna.

 

 

CPT: Com relação às ações do Estado, quais os avanços e mudanças na política agrária podemos destacar nestes últimos anos?

P. J: O Estado brasileiro nunca pensou o país levando em consideração o campo. As políticas são pensadas na lógica de uma sociedade urbana/consumidora/industrial. Para o campo? Políticas compensatórias e mitigação. É por isso que nunca se fez a Reforma Agrária no Brasil, é por isso que não se demarca as terras dos povos quilombolas, é por isso que a questão indígena não se resolveu ainda, nem seus territórios foram demarcados. É por isso que se insiste em fazer mais hidrelétricas em um país com muitas possibilidades energética, mesmo que tenham que expulsar camponeses, indígenas e quilombolas de seus territórios. O Estado nunca exerceu uma política que mudasse a estrutura fundiária. Os dados do último Censo agropecuário do IBGE denunciam: aumentou a concentração de terras no Brasil.

 

CPT: Quais os desafios que os camponeses e camponesas enfrentam hoje?

P.J: Os desafios dos camponeses e das camponesas em Pernambuco e no Brasil, é o mesmo dos da América Latina. Além de lutarem pelas suas terras e territórios, pela defesa das florestas, pela defesa das águas, ou seja, além de travarem uma luta contra as empresas que se apropriam dos bens naturais, os camponeses e camponesas tem que ter a coragem de lutar contra o Estado que os coloniza. O papel do Estado brasileiro é de pavimentar o território nacional para a maior fluidez na acumulação do capital. A luta do campesinato na atualidade é contra o capitalismo e contra este Estado colonial.

 

Para isso, é claro, vai depender de muita mobilização, de uma unidade consciente, formação política, aceitação das diferenças que temos no campo, clareza do projeto que se quer construir e uma boa e necessária aliança com a cidade. Ou se muda a sociedade e as estruturas de poder que temos ou não conseguiremos mudar nem o campo nem a cidade.

 

CPT: Quais são as expectativas após a realização do Encontro?

P.J: A realização deste encontro nos deixa muito esperançosos. Creio que seja essa capacidade de re-começar e de re-fazer, agregando sempre elementos novos que o campesinato tem, que permitem sempre encontrar novos caminhos. É na caminhada que construímos os caminhos e este encontro não é, e nem se pretende ser um início, mas parte da caminhada, em busca da terra sem males. Não tenho dúvidas que chegaremos lá!

 

 


* Plácido Junior é geográfo e agente da Comissão Pastoral da Terra


Entrevista realizada pelo Setor de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra - Regional NE II

Foto: Setor de comunicação da CPT NE II

 

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