Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

 
Paraíba - Noite do dia 06 de abril de 2016. No assentamento Padre João Maria, localizado em Mogeiro/PB, enquanto as famílias adormeciam, o latifúndio revelava a sua face mais sangrenta e violenta. Em uma das casas do assentamento, um trabalhador era chamado para abrir a porta de sua morada. Emboscada. Segundos depois de atender o chamado, caia ao chão, assassinado com um tiro na cabeça, o trabalhador rural e liderança comunitária Ivanildo Francisco da Silva, de 46 anos.
Entardecer do dia 06 de abril de 2017. Em homenagem e pela memória do companheiro Ivanildo, dezenas de trabalhadores/as rurais, assentados/as, posseiros/as da região, além de sindicalistas e integrantes da CPT, participaram da missa que marcou um ano do seu assassinato. Celebrada pelo Frei Anastácio, pelo Padre João e Padre Alex, a missa foi realizada no Assentamento Dom Marcelo, também localizado no município de Mogeiro. De lá, os trabalhadores e trabalhadoras saíram em caminhada até o local exato onde Ivanildo foi executado, no assentamento Padre João Maria.
 
Um dos momentos mais emocionantes da celebração aconteceu ali: uma grande cruz foi plantada no local. Outro momento que não sairá da memória dos que estavam presentes foi quando o pai de Ivanildo beijou demoradamente a fotografia do filho, como pudesse ele mesmo beijar o próprio rosto do trabalhador. Os culpados ainda não foram presos ou julgados. O sentimento da família e também dos/as trabalhadores/as, durante a celebração, foi de muita emoção e revolta pela perda do companheiro Ivanildo, liderança camponesa que lutava ativamente pela Reforma Agrária e que denunciava os conflitos agrários e violações de direitos, sobretudo na região de Mogeiro.
 
História - O trabalhador rural Ivanildo Francisco da Silva, de 46 anos, foi assassinato na noite do dia 06 de abril de 2016, na casa onde morava no Assentamento Padre João Maria, no município de Mogeiro, Paraíba. O trabalhador, que também era presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) no município, foi abordado em sua casa por volta das 22 horas, enquanto estava na companhia de sua filha de um ano e meio de idade. Ivanildo foi assassinado com um tiro de espingarda calibre 12, na cabeça. As famílias do assentamento ouviram o tiro, mas durante toda noite não saíram de suas casas com receio de serem vítimas de violência. O corpo de Ivanildo foi somente encontrado na manhã do dia 7.
 
Para as famílias assentadas e organizações que acompanham o caso, a motivação do crime está relacionada à sua atuação política contra o latifúndio na região. Ivanildo foi mais uma vítima do latifúndio. O trabalhador era uma liderança atuante na área, contribuía e denunciava os contextos de violência na luta pela terra na região e já havia sido vítima de pistolagem.
 

Relembre a nota da CPT sobre o assassinato do trabalhador Rural, divulgada em 2016.
 
A CPT na Paraíba sente as dores de mais um assassinato no campo
Mataram mais um irmão...”
 
Para nós, o que significa o mandamento “não matarás”?
 
Na Laudato Si, o Papa Francisco nos chama atenção para “o destino comum dos bens”:
 
 “O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possuir uma parte é apenas para administrar em benefício de todos. Se não o fizemos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros. Por isso, os bispos da Nova Zelândia perguntavam-se que s significado possa ter o mandamento “não matarás”, quando “uns 20 por cento da população mundial consomem recursos numa medida tal que roubam às populações pobres, e às gerações futuras, aquilo que necessitam para sobreviver.”
 
Este texto nos faz pensar, especialmente hoje ao saber do assassinato do nosso irmão e companheiro de lutas, Ivanildo Francisco da silva, 46 anos, que morava no Assentamento Padre João Maria no Município de Mogeiro. Encontrado no terreiro de casa, com um tiro (de espingarda calibre 12) na cabeça, e a filha de um ano e meio, ensanguentada ao seu lado, hoje 07 de abril de 2016, às 8 horas da manhã. A casa estava com a porta arrombada, e foram escutados tiros por volta das 22 horas da noite anterior, ainda era dia 06.
 
Ivanildo está na luta pelo acesso à terra desde 1994, foi acusado injustamente de tentativa de homicídio do policial Sergio Azevedo, ficou um ano e sete meses preso injustamente junto com mais seis companheiros, que foram julgados e absolvidos oito anos depois, em 27 de agosto de 2015.
 
Há três anos vivendo no Assentamento Padre João no município de Mogeiro, estava solidário à luta dos posseiros das fazendas Paraíso de Pilar, Paraíso de Mogeiro, fazenda Fazendinha e Salgadinho. Esta última, palco de tiroteio em 26 de outubro de 2015, onde Ivanildo foi um dos seis camponeses baleados.
 
Feliz estava ele nos últimos dias por ter recuperado parte da força no braço baleado, era feliz também pela sua terra e por estar “ajudando outros a conseguir a sua”. É assim que o povo caminhante rumo a terra prometida se fortalece, na luta, no abraço, e também na dor, no companheirismo, sonhando com o Novo que há de vir.
 
"A força do demônio não vai nos vencer. Com a força de Deus venceremos", nos disse um camponês quando no primeiro despejo no conflito de Paraíso Mogeiro, ele falava desta humanidade que esta desfazendo os caminhos do amor e faz "gente boa" sofrer. Ele fala sobre “não matarás”; ele fala de ter acesso “aquilo que necessitam para sobreviver”.
 
Que “o amor seja amado”, como nos pedia São Francisco. O nosso Irmão Ivanildo estará sempre presente, na memória das lutas e na nossa indignação. Que o sangue derramado não seja em vão, mais sirva para alimentar nossa força de luta e a nossa fé no caminho de construção do Reino, que mantenha em nós viva a chama da missão de ser presença solidária na luta dos povos da terra, sendo fiel ao Deus dos pobres.
 
Comissão Pastoral da Terra Paraíba (CPT-PB)
 
 
 
Imagens: Comissão Organizadora/PB
 
 
 
 
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