Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A produção do biogás cujo principal componente é o gás metano, a cada dia, ganha mais espaço no debate e nos projetos que adotam a sustentabilidade. Obtido do simples processo de decomposição da matéria orgânica, por bactérias, pode ser utilizado em substituição ao "gás de cozinha", na movimentação de geradores de energia elétrica ou até mesmo em veículos automotores. Para seu uso são desenvolvidas tecnologias relativamente simples como os biodigestores que podem ser classificadas como tecnologias para produção de energia renovável.
   
O gás metano, principal componente do biogás, é uma substância encontrada, com frequência, na natureza, resultante do processo de multiplicação de microrganismos – fermentação. Para que ocorra a fermentação é importante que os microrganismos encontrem condições ideais: matéria orgânica, umidade, temperatura, e ausência de oxigênio, por isso é chamada de fermentação anaeróbica.
 
O gás, inflamável, tem alta capacidade geradora de energia. Através da geração direta de calor pela combustão, substitui o gás butano, utilizado tradicionalmente nas cozinhas; ou na combustão de motores geradores de energia elétrica, onde a energia gerada neste processo poderá ser utilizada para os mais variados fins, como acionar lâmpadas, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, etc. Também pode ser utilizado na combustão de motores automotivos, como carros e tratores, por exemplo. nos postos de combustível.
 
O metano é o principal componente do "gás natural" que abastece os veículos nos postos de combustível 
 
Com uma tecnologia relativamente simples chamada biodigestor é possível produzir este gás para utilizá-lo como insumo nos agroecossistemas familiares, a exemplo do que acontece na Rede de Cultivos Agroecológicos do Sertão Paraibano, onde famílias implantaram e estão experimentando a tecnologia. O biodigestor é uma simples câmara de fermentação que oferece as condições ideais para as bactérias se multiplicarem e fermentarem a matéria orgânica, gerando biogás e biofertilizante.
 
Em conversa com o Sr. Genival e a Sra. Marlene do Assentamento Floresta em Sousa-PB, observam-se vantagens da tecnologia, principalmente, nos campos econômico e ecológico:
 
Vantagens econômicas:

1. Economia de gás de cozinha - o modelo em experimentação pelas famílias agricultoras do Sertão Paraibano está produzindo gás suficiente para o consumo de uma casa com média de 4 pessoas. Segundo seu Genival do Assentamento Floresta, Sousa-PB está sobrando gás. “Até diminui o abastecimento com esterco, já não coloco esterco todo dia!” conta ele.

2. Fertilizantes – seu Genival também afirma que o biodigestor transforma o esterco em um biofertilizante pronto para uso e com alto poder fertilização do solo, eliminando a necessidade comprar qualquer adubo.

Vantagens ecológicas:

1. Com a adoção do biofertilizante a família praticamente elimina o uso da lenha, que anteriormente era obtida com a retirada da vegetação da caatinga.

2. O gás metano embora com enorme potencial gerador de energia térmica e/ou elétrica, quando exposto ao ar livre torna-se um potencial poluente, contribuindo para o efeito estufa. É aproximadamente 20 vezes mais prejudicial que o gás carbônico. Ao ser queimado no fogão, por exemplo, ele é transformado em gás carbônico e água.
Em uma abordagem mais holística se observam outras vantagens na instalação do biodigestor:
 
a) a qualidade da biofertilizante contribui para a melhoria da produtividade dos cultivos vegetais, bem como, para a qualidade dos produtos, pois não há necessidade de utilização de agroquímicos.
b) O aumento da produção vegetal também vai refletir na criação animal, que terá maior oferta de forragem.
c) Elimina uma atividade insalubre, geralmente realizada pelas mulheres, que é a coleta de lenha .
 
O biodigestor comporta-se como uma importante tecnologia mediadora de processos ecológicos e econômicos dentro do agroecossistema familiar recebendo, transformando e distribuindo matéria entre os subsistemas e entregando o gás como produto final para o consumo na casa, ver fluxograma abaixo.
 
 

A experimentação por famílias agricultoras


No semiárido brasileiro já se identificam diversas famílias experimentando o biodigestor como tecnologia para produção de biogás e biofertilizante. Na Paraíba, no início do atual Século, a ONGs PATAC e Utopia (irmão Urbano) apoiou a implementação da experiência junto à famílias agricultoras do município de Soledade-PB. Foram as primeiras unidades do modelo campânula, adaptado com caixas d’água, que tomei conhecimento.
 
A experimentação se expandiu a partir do momento que famílias agricultoras participaram de visitas de intercâmbios e conheceram o fazer de outras famílias. Além da Paraíba famílias agricultoras de Pernambuco e Rio Grande do Norte, com apoio de ONGs como a Diaconia e a Visão Mundial, também iniciam a implantação da tecnologia em seus agroecossistemas.
 
No ano de 2015 foi a vez de famílias assentadas da reforma agrária do sertão paraibano conhecerem a experiência do biodigestor de Dona Maria José e Seu Carlos na comunidade Riacho do Meio, município de Olivedos-PB. O momento era de uma visita para conhecer a experiência de reúso de água, também chamada de bioágua, uma atividade de formação para implementação das ações do projeto ECOFORTE. O projeto apoia a Rede de Cultivos Agroecológicos do Sertão Paraibano e é gerido pelo Instituto Frei Beda de Desenvolvimento Social - IFBDS.
 
O biodigestor despertou tanto a tenção das famílias que ao retornarem do intercâmbio decidiram experimentar, além das tecnologias de reúso de água, também o biodigestor. Para tanto criaram, na rede, um Fundo Rotativo para financiar a implantação. Associado ao fundo rotativo a Rede de Cultivos através das instituições assessoras (IFBDS, CPT, e o Núcleo Campo Solar IFPB-Cajazeiras) aprovaram um projeto junto ao Fundo Socioambiental CASA. 
 
A implantação dos nove biodigestores, meta do projeto acima citado, encontra-se em fase de conclusão e se depender das famílias experimentadoras a tecnologia deve se expandir, pois os resultados são animadores. Ver matéria produzida pela TV Paraíba.
 
 
 
 
Curiosidades!

Como dito anteriormente, o gás pode ser produzido da decomposição de qualquer matéria orgânica, porém, no Brasil e no mundo, priorizam-se a produção com esterco bovino, suíno e de aves, principalmente. Embora qualquer matéria orgânica possa, ao ser fermentada produzir biogás, a qualidade (% de gás metano em relação aos outros gases) e quantidade é variável, ver figura abaixo.

Fonte: Colatto e Longer (2011)

 

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