A Comissão Pastoral da Terra em João Pessoa partilha relato que dá detalhes dos momentos que antecederam o assassinato do trabalhador rural Ivanildo Francisco da Silva, ocorrido no último dia 06 de abril, no município de Mogeiro/PB. A CPT em João Pessoa se reuniu com o trabalhador e outras lideranças no mesmo dia em que foi assassinado, para tratar sobre os conflitos agrários e as ameaças na região. Outros trabalhadores rurais e lideranças camponesas estão na lista de ameaçados de morte na mesma região.
Informes gerais sobre o assassinato do agricultor Ivanildo Francisco da Silva.
No ultimo dia 06 de abril do corrente ano, Ivanildo Francisco da Silva participou de uma reunião com a CPT e representantes das 12 áreas de conflito da Diocese de João Pessoa/PB acompanhadas pela CPT. A reunião iniciou-se às 9 horas e encerrou-se às 14 horas, onde discutimos a conjuntura atual, o processo das ações da Reforma Agrária e nossas estratégias para por fim a situação dos conflitos locais. Destacamos a presença dos capangas na região do agreste, principalmente nos munícipios de Mogeiro e São José dos Ramos. Foi informado que havia em poder dos capangas uma lista de nomes de lideranças da Região, incluindo as dos municípios de Pilar, São José dos Ramos e Mogeiro. Na ocasião, a liderança camponesa Robson, do P.A Nova Conquista, comunicou que no dia 02/04/2016, à tarde, quando estava em casa com seu filho de quatro anos, chegou uma comitiva com cinco capangas fortemente armados. Dois deles se aproximaram em direção a sua casa e três ficaram no carro com as armas expostas. Conversaram um longo tempo com ele, um deles estava gravando toda a conversa. O tempo todo perguntaram se ele estava só em casa, se ele estava incentivando os agricultores a invadirem as terras do seu patrão, que quem mandava lá era o Dr. Paulo Maia (proprietário), e assim por diante.
A partir deste informe de Robson, refletimos e orientamos mais cautela por parte de todos. Terminada a reunião, os trabalhadores regressaram para suas respectivas comunidades e Ivanildo foi para uma audiência na Justiça Federal com o Dr. Aldaris Junior, assessor jurídico da CPT. Terminada a audiência, ele também retornou para sua comunidade. Como ele estava com o carro de outro companheiro da comunidade vizinha – Salgadinho -, foi às 18hrs foi entregar o carro, seguiu para a casa do seu sogro, que é de Salgadinho e às 19hrs foi para a sua casa, no P.A Padre João Maria Cauchi, deixando a sua esposa que estava na igreja e levando a sua filha mais nova de um ano e um mês consigo. A partir desse momento, ninguém mais teve comunicação com ele.
No dia seguinte, 07/04/2016, Ivanildo, teria combinado de novamente pegar o carro de seu companheiro para ir à Campina Grande, às 7hrs. Passado o horário combinado, Ivanildo não apareceu. Seu companheiro foi até a sua casa e se deparou com o corpo de Ivanildo caído na porta da frente e sua filha de apenas um ano e um mês, em sua imensa inocência, brincando por cima do corpo de seu pai. Logo o companheiro pegou a criança para levar até sua mãe. Em seguida, comunicou para a CPT e as comunidades vizinhas o ocorrido. Chamaram a polícia e daí iniciou o processo de investigação. O governo do Estado da Paraíba determinou que fosse nomeado um delegado especial e exigiu que o crime fosse investigado. O processo das investigações esta indo bem. à pedido da assessoria jurídica, todos os depoimentos estão sendo realizados em João pessoa, devido as delegacias da região terem forte ligação com os proprietários de terra.
No momento, o que reina é o clima de medo nas comunidades. No entanto, todos possuem o sentimento de que haverá justiça para um crime tão brutal que tirou a vida de uma liderança tão importante para a luta pela reforma agrária.
A partir das informações e depoimentos das pessoas da comunidade, o crime ocorreu por volta das 21h30 do dia 06/04/2016. O corpo só foi encontrado no dia seguinte às 7h30. Segundo a Perícia, o trabalhador foi atingindo por dois tiros, sendo um de arma menor e outro de uma arma de grande potência.
Ivanildo deixa seis filhas mulheres, cinco do primeiro casamento e a bebê de um ano, do seu segundo casamento. Era um animador, conselheiro, companheiro de todos os momentos. Nos deixa um legado de luta e resistência. Resta-nos lutar para que a justiça seja feita e seguir o seu exemplo de vida solidária e presente nos momentos difíceis e de vitórias.
Comissão Pastoral da Terra - Equipe de João Pessoa