Com o lema “Lutaremos! Pelos nossos corpos e territórios, nenhuma a menos”, acampamento Dandara dos Palmares reuniu aproximadamente 800 mulheres e meninas do campo de Alagoas
O acampamento Dandara dos Palmares, realizado pelas organizações e movimentos do campo de Alagoas, começou na quarta-feira, 6, e foi encerrado hoje, 8 de março.
Foram três dias de atividades de mobilização, audiências de negociações com o governo estadual, plenárias de formação e atividades de trocas de experiências das mulheres camponesas. Neste Dia Internacional da Mulher, 8, as mulheres do campo se uniram às mulheres da cidade numa grande marcha pelo Centro da capital.
Ontem, 7, as lideranças tiveram audiências com o diretor-presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), Jaime Silva, e com a secretária Executiva da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Amélia Fernandes. Também estava agendada uma reunião com a secretária da Agricultura e Pecuária, Carla Dantas, mas ela não compareceu.
No Iteral, estiveram presentes mulheres dos acampamentos e pré-assentamentos Bota Velha e Mumbuca (Murici), Nossa Senhora de Guadalupe (Igaci) e Domingas (Porto de Pedras), acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), respectivamente, na Zona da Mata, do Sertão e no Litoral de Alagoas. Os três primeiros aguardam a liberação das terras já adquirias pelo estado, enquanto o último é uma área de conflito no campo.
Maria Quitéria, liderança da comunidade Bota Velha, contou que, recentemente, os moradores do pré-assentamento tiveram uma visita de um senhor acompanhado da polícia, alegando que havia comprado 54 hectares da fazenda. "Ele chegou lá com a polícia e eu falei para que ele procurasse o estado, porque quem comprou [o imóvel rural] foi o estado e não os acampados", disse. Segundo ela, após a denúncia das famílias acompanhadas pela CPT, o Iteral ajuizou uma ação na justiça que pode resultar na penalização do cartório de Murici por grilagem. "Hoje (7) recebi uma nova documentação para que eu não me preocupasse, porque o estado tem direito a 513 hectares, e não 459", relatou.
No acampamento montado na Praça Sinimbu, no Centro de Maceió, durante o momento de partilha de experiências, a camponesa Fábia Melo Silva, do assentamento Santo Antônio, acompanhado pela CPT no município de Major Isidoro, falou que aprendeu muito com a história das companheiras que perderam a vida na luta e que isso a fortaleceu. "Sou mãe, sou avó e logo, logo, serei bisavó. Então, peço para as companheiras que sejam mulheres e não tenham vergonha de lutar, porque nós temos nossos direitos e nós vamos buscá-los!”, finalizou.
Numa demonstração de unidade em defesa da vida de todas as mulheres, as aproximadamente 800 camponesas acompanhadas pela CPT, pelo MST, pela Frente Nacional de Luta (FNL), pelo Movimento de Libertação dos Trabalhadores Sem Terra (MLST) e pelo Movimento de Luta pela Terra (MLT), engrandeceram o ato público do 8 de março ao lado das mulheres urbanas. A manifestação teve concentração às 9h na Praça Deodoro e partiu em passeata até o Palácio República dos Palmares, na Praça dos Martírios. Durante o protesto, houve discursos e apresentações artísticas num trio elétrico.
A avaliação das coordenadoras das organizações reflete o fortalecimento da auto-organização das mulheres camponesas.
"Esses dias de atividades foram bastante importantes, primeiro, porque reafirmamos o compromisso com a luta pela terra e por reforma agrária, por direitos das mulheres do campo e no campo através das organizações que estavam aqui presentes. Então, foram dias produtivos para que possamos sair daqui fortalecidas e retornar aos nossos acampamentos e assentamentos nesse processo de luta e resistência", avaliou Margarida da Silva, a Magal, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).
Magal lembrou, ainda, que o acampamento, tendo como lema "Lutaremos! Pelos nossos corpos e territórios, nenhuma a menos", denunciou, principalmente, as violências contra as mulheres.
Fotos 1 e 2: Lara Tapety (CPT)
Foto 3: Mykesio Max (MST)