As famílias posseiras que vivenciam um conflito no campo no município de Colônia Leopoldina, localizado na Zona da Mata alagoana, vieram a Maceió ontem, 26, para se reunir com o diretor-presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), Jaime Messias Silva, em busca de intermediação para permanência na área conhecida como Mônica.
A reunião também contou com a participação do superintendente de políticas para direitos humanos, Dr. Mirabel Alves; da equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do advogado da organização e das famílias, Dr. Lenivaldo Lima, que estão acompanhando o caso; e do padre Gilvan Neves, representando as pastorais sociais da Arquidiocese de Maceió.
Os participantes estiveram na comitiva que visitou a localidade no dia anterior junto ao Centro de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar (PM), que garantiu a segurança da iniciativa. Uma série de violações de direitos humanos foram constatadas na visita in loco da comitiva.
“Nós, enquanto membros da Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos, que é uma secretaria de articulação, vamos sim abraçar essa causa e fazer todas as articulações possíveis para que haja reparação dessas violações, mas entendemos também da necessidade de o estado solucionar o problema da terra em favor desses trabalhadores. Seria muito bom que houvesse essa possibilidade”, disse o Dr. Mirabel.
Já no Iteral, o diálogo foi no sentido de analisar coletivamente o que pode ser feito para assegurar as posses das famílias que vivem na propriedade rural há gerações.
“Tenho 47 anos. Nasci e me criei lá em Mônica. Meu pai e meu avô também sempre viveram na terra. Meu avô morreu com 77 anos trabalhando na lavoura”, relatou a agricultora Iris.
O agricultor Maurício falou sobre a destruição de sua plantação de banana causada por pulverização aérea de agrotóxicos. O laudo técnico produzido pela engenheira agrônoma Heloísa do Amaral, base para investigação do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas), estima um prejuízo de quase R$300 mil.
“No dia 09 de novembro foi destruída a minha lavoura. Em outubro, eu colhi 36 mil bananas. No mês de novembro eu estava calculando colher mais de 40 mil, que é um mês de mais produção. Eu não sei quanto tempo a minha lavoura vai se recuperar, está aí o laudo da engenheira. O que eu sei é que quando chego lá dá dó e dá vontade de chorar quando a gente vê. E agora, no dia 22 de janeiro, cortaram o amare e colocaram os bois na área”, contou.
Ainda de acordo com os depoimentos, o objetivo dos supostos compradores é destruir as lavouras para criar gado, além de manter parte da monocultura da cana de açúcar.
O diretor-presidente do órgão do governo estadual se comprometeu em contactar o proprietário do imóvel rural que consta no registro do Cartório de Colônia Leopoldina.
“Todo esse tempo no Iteral o que eu tenho feito é tentar conduzir a paz, e isso a gente faz procurando conversar com as pessoas que estão envolvidas no processo. Eu acredito que esse problema que está acontecendo na Mônica tenha tudo para se resolver no diálogo. Essa é minha missão, dialogar com ambas as partes para que a paz de volte ao campo, que o pessoal volte a produzir e tenha segurança de criar seus filhos com qualidade de vida. Vou procurar o proprietário e tentar o diálogo para ver o que podemos fazer para ajudar as famílias”, disse Jaime Silva.