Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Somos terra, somos água, somos vida. Somos camponeses e camponesas, vindos das comunidades de acampamentos e assentamentos da região do Litoral, da Mata e do Sertão, reunidos na 31ª Assembleia da Pastoral da Terra de Alagoas. A Diocese de Palmeira dos Índios nos acolheu com ternura. Na terra de Graciliano Ramos, sentimos a presença ancestral do povo Xukuru-Kariri que luta pela desintrusão de parte do seu território, cerca de 5800 hectares, o que levaria a posse plena.



Nesses dias entendemos que o capital não conhece limites, mas impõe cercas por onde passa. Ele é o principal responsável pelas crises social e ambiental, registradas em vários continentes, cujas consequências mais imediatas são: aumento do desemprego, da fome, da concentração de terras e da desigualdade social.

Na atualidade, o capital se materializa, especialmente, por meio de grandes grupos empresariais que atuam em nível global e que impõem uma agenda bastante regressiva. Esses grandes grupos empresariais estão também no campo brasileiro e têm fortalecido as cercas do capital, por meio do uso da violência contra as famílias camponesas e povos tradicionais, do incentivo ao uso de agrotóxicos – o que significa mais veneno na comida do povo brasileiro –, da contaminação de sementes crioulas por organismos transgênicos, da expansão de monocultivos (eucalipto, soja, cana de açúcar, dentre outros) destinados à exportação (commodities) e da privatização das fontes de água.

O Brasil, de braços dados com o capital, promove o desmonte de órgãos públicos, especialmente aqueles atuantes na área do Meio Ambiente, nas demandas dos povos indígenas e na questão da reforma agrária – como o Ibama, ICMBio, Funai e Incra. As políticas implementadas pelo governo federal, assim como as suas declarações, externam seu desprezo e preconceito contra as comunidades, lideranças e organizações indígenas.

O presidente incentiva a exploração predatória das reservas indígenas, contesta demarcações já concluídas, modifica a atuação da Funai. Altera significativamente a estrutura de atuação do Incra, transferindo responsabilidades fundamentais para o Ministério da Agricultura, facilitando a entrega de terras públicas para latifundiários, extinguindo importantes programas sociais, a exemplo do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que formou centenas de milhares de camponeses e camponesas.

Recusamos a pauta do capital. Seguimos nos caminhos da carta de Paulo aos Romanos, que alerta que a natureza grita e geme como em dores do parto; queremos ser os galhos da videira, como diz Jesus, por meio do evangelista João; comungamos com as orientações do Papa Francisco que insiste no esforço coletivo na defesa da Terra, clamando aos cristãos e as pessoas de boa vontade a defendê-la como Casa Comum.

Nós, comunidades camponesas, assumimos o compromisso de praticar os princípios do bem viver; vamos zelar e guardar a Criação; iremos preservar a nossa casa comum. Responderemos com um SIM ao convite do Papa Francisco: “Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós” (Papa Francisco, em carta encíclica Laudato sì).

“Romper as cercas do capital e tecer as teias do Bem Viver na Casa Comum: Somos Terra, Somos Água, Somos Vida”.



Palmeira dos Índios, 05 de março de 2020.

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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