Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Em uma bela noite de lua cheia, no chão sagrado de Zumbi e Dandara, na Serra da Barriga, mais de 3 mil romeiros e romeiras se reuniram em busca de renovar a fé e a esperança em um mundo novo, com igualdade e justiça social. Sob o tema “Trinta anos no Chão Sagrado: de novo Serra, alcançando a Nova Terra”, a Romaria da Terra e das Águas comemorou 30 anos com grande celebração e caminhada do Sítio Recanto em direção ao platô da Serra da Barrigada, durante a noite do dia 4 de novembro até o amanhecer do dia 5.



Caravanas de diversas regiões de Alagoas e de vários bairros de Maceió, religiosos de outros estados da federação e até de outros países representaram o encontro da diversidade promovido pela 30ª Romaria da Terra e das Águas.

Para Carlos Lima, coordenador da Comissão Pastoral da Terra e organizador da atividade, a comemoração honrou a história e a grandeza da Romaria.

 

“É uma grande felicidade alcançar 30 anos de Romaria e voltar de novo à serra da Barriga. Comemoramos e celebramos com o tamanho que a Romaria merece de participação, de beleza, de mística, de espiritualidade. Estamos renovados para que a gente possa continuar caminhando em busca dessa terra que corre leite e mel, que é a terra prometida que o povo de Deus à persegue até hoje”, afirmou Lima.

A celebração da noite foi conduzida pelo Bispo Presidente da CPT, Dom Enemésio Lazzaris, e acompanhada por diversos padres e religiosos. Em sua homilia lembrou a luta dos negros por liberdade, dos camponeses pela democratização da terra e a dos empobrecidos por justiça. Para ele, celebrar na Serra da Barriga foi algo inesquecível.


“Vir à Alagoas, aqui na serra da barriga, é uma experiência única. Eu não imaginava que um dia eu poderia conhecer a terra de Zumbi, estar aqui participando desta 30ª Romaria, onde zumbi e seu grupo lutaram para poder sobreviver, me dá uma vontade ainda maior de continuar como pastor, como bispo, de continuar a luta em defesa dos pequenos”, afirmou Dom Enemésio.

Repleta de elementos simbólicos, que deram encanto à caminhada, a Romaria também foi um encontro de gerações. Um dos fundadores da CPT e da Romaria, Aldo Giazzon, mesmo com 80 anos, veio diretamente da Itália caminhar e contribuir com a mística desse momento. No início, carregou a imagem de Santa Luzia da capelinha para o centro das celebrações e, durante a subida da Serra, fez uma reflexão sobre a terra sagrada, retirou as sandálias e convidou os romeiros e romeiras para caminhar descalços o último trecho do percurso de 3 km.


“É o mesmo entusiasmo dos primeiros tempos, só que nas primeiras romarias não havia tanta gente e hoje tem vários grupos que participam e têm a alegria de poder expressar, de novo, o entusiasmo de ver o mundo melhor, de reagir diante do capitalismo e diante das autoridades do Brasil que quer dominar”, disse o padre Aldo ao expressar sua alegria em reviver o que ajudou a fundar.

Da primeira romaria, além do Padre Aldo Giazzon, estiveram presentes diversas pessoas, que foram encarregadas de conduzir a Cruz Sem Males no primeiro trecho da caminhada. Edileuza Oliveira foi uma delas. Há época, era integrante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e, hoje, disse estar realizada em estar na 30ª Romaria.

“Eu pude comparecer na primeira Romaria da terra, há 30 anos passados, e pisar nesse chão sagrado. Viver aquele momento foi uma primeira experiência de comunhão com os movimentos sociais, com as comunidades eclesiais de base e a pastoral da juventude, à qual eu fazia parte. Para mim, é reviver a esperança”, disse a romeira.


A 30ª Romaria da Terra e das Águas foi coroada ainda com a participação de convidados especiais, como o Emílio April, um dos fundadores da CPT e da Romaria, que veio do Canadá para esta Romaria; membros de outras congregações, como o Pastor Wellington Santos, da Igreja Batista do Pinheiro; e os cantores populares, Zé Vicente e Zé Pinto. Os músicos, além de realizarem suas apresentações, cantaram junto com o coral da celebração e fizeram canções do alto da Serra da Barriga.

“Enquanto cantador, enquanto poeta popular, a gente vem e bebe dessa fonte, recebe essa energia positiva desse povo e renova nossas energias para continuar. É muito positiva a questão de a gente está defendendo essa Serra, gritando o nome de Zumbi dos Palmares e ajudando o povo a poetizar essa caminhada”, disse Zé Pinto.


Para Zé Vicente, a Romaria é parte de luta contra a opressão. “O que a gente celebra aqui, nesta noite, é a certeza que essa terra, que esse caminhar, é o alimento de nossa esperança nesse momento de tanta crise no Brasil. E contribuir com a música, nesse momento de alegria e festejos, é para mim uma honra, uma missão e um grande desafio de como a gente se manter fiel a essa arte engajada com a causa da libertação”, afirmou.

Romaria

Em 1988, foi realizada, na Serra da Barriga, a primeira Romaria da Terra com o tema “Terra Mãe: Filhos livres”. A inspiração bíblica da caminhada surgiu pela luta dos hebreus que, movidos por Javé e liderados por Moisés, rompem com a escravidão no Egito e partiram em romaria rumo a Terra Prometida, aonde corria leite e mel.

Esta edição comemorativa de 30 anos foi organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Associação dos Missionários e Missionárias do Campo e Arquidiocesse de Maceió.

O aniversário de 30 anos de Romaria cumpriu seu objetivo alimentar a espiritualidade do caminhante, preservar a memória de luta do Quilombo dos Palmares, incentivar a luta pela democratização do uso da terra e a preservação da água como um bem comum, assim como estimular a prática da justiça, da partilha e da solidariedade entre os filhos e filhas de Deus.










 

Fonte: CPT ALAGOAS

 

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