Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

O presidente do Assentamento Irmã Daniela, Edmilson Alves da Silva, 35 anos, foi sepultado, na manhã do último sábado (23), no Cemitério Santa Luzia, em Porto Calvo, região Norte de Alagoas. O líder regional do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) foi assassinado a tiros no início da manhã de sexta-feira (22), à margem da AL-465, em Japaratinga.

(Fonte: GazetaWeb)

O velório e o sepultamento reuniram lideranças do Movimento ligadas às direções estadual e nacional, trabalhadores rurais, além da superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, Lenilda Lima. Ela cobrou rigor na apuração do crime e revelou que a comunidade do Assentamento Irmã Daniela vive um clima de “intranquilidade” depois da morte de sua principal liderança.

“É preciso uma resposta rápida das autoridades policiais para a elucidação desse crime que, ao que tudo indica, envolve questões agrárias, a disputa por terra, algo forte em Alagoas. Precisamos devolver a tranquilidade aquelas famílias”, afirmou Lenilda. A superintendente disse que cobrou providências ao Gabinete Civil e ao Centro de Gerenciamento de Crise, Direitos Humanos e Polícia Comunitária (CGCDHPC). Ela lamentou a morte de Edmilson, a que chamou de líder sem-terra atuante.

“Infelizmente, depois de tanta luta, ele não pôde, junto com seus companheiros, desfrutar da terra que tanto sonhou”, lamentou Lenilda, lembrando que a Superintendência Regional do Incra em Alagoas prestou apoio à família do líder sem-terra para a liberação do corpo junto ao Instituto Médico Legal (IML) de Maceió.

O velório de Edmilson aconteceu na sede do Assentamento Irmã Daniela, em Japaratinga. O corpo chegou àquele núcleo da reforma agrária por volta das 22 horas de sexta-feira (22), após ser liberado pelo IML. Por volta das 11 horas, o cortejo seguiu pela AL-465 até Porto Calvo, onde Edmilson foi sepultado, no Cemitério Santa Luzia, sob forte comoção. A família dele reside neste município.

 

O crime

Edmilson foi surpreendido e morto à margem da AL-465, enquanto aguardava a chegada de um carro que o levaria à sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Maceió. O presidente do Assentamento receberia cestas básicas que seriam distribuídas aos assentados e acampados da região.

Dois homens em uma moto se aproximaram e abriram fogo contra o líder sem-terra. Ferido, ele buscou refúgio dentro da sede do Assentamento, que ainda está em fase de instalação. Edmilson tombou ao lado de um barraco de lona, morto com tiros na cabeça. Os criminosos fugiram levando uma bolsa com todos os documentos da vítima. Edmilson morava com a esposa, Célia Amâncio dos Santos, 33, num barraco instalado na sede do Assentamento. As casas de alvenaria ainda não foram construídas. Ele era pai de cinco filhos.

A imissão de posse do Assentamento Irmã Daniela, que se estende por terras localizadas entre Japaratinga e Porto Calvo, saiu em agosto de 2014, depois de 14 anos de resistência e luta das 31 famílias assentadas, que resultaram em ameaças de morte e três incêndios criminosos. Edmilson liderava a comunidade.

“Se ele recebia ameaças de morte, não falava em casa. Mas não tenho dúvidas de que foi por causa disso (conflitos agrários) que ele morreu ”, disse a esposa. O coordenador estadual do MLST em Alagoas e integrante da direção nacional do Movimento, Josival Oliveira, lamentou a morte do líder sem-terra e também cobrou do Gabinete Civil do governo do Estado e da Secretaria de Defesa Social (SDS) rigor na apuração do crime.

“O Edmilson era um companheiro muito ativo e conectado à direção estadual do MLST; sempre estava conosco nas reuniões e discussões do Movimento, mas nunca nos falou abertamente sobre ameaças de morte. Isso está muito esquisito”, avaliou “Val”, como é conhecido.

 

Inquérito

O inquérito foi instaurado pelo delegado de Maragogi e Japaratinga, Ayrton Soares Prazeres. O delegado plantonista, Carlos Umberto, esteve no Assentamento e iniciou as investigações. O diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Área 3 (DPJA-3), delegado Carlos Alberto Reis, também esteve em Maragogi e Japaratinga, ofertando apoio às diligências policiais.

Além do envolvimento do líder sem-terra com os conflitos agrários na região Norte, a Polícia Civil vai investigar também a atuação de Edmilson na cobrança pela elucidação do caso que envolve a sobrinha dele, Jéssica Maria da Silva.

Ela tinha 21 anos de idade quando desapareceu no dia 29 de outubro de 2012. Jamais foi encontrada. O ex-marido dela, o pastor evangélico José Vicente de Santana, e o suposto amante da mulher, José Gonçalves do Nascimento, o “Duda”, pivô da separação do casal, chegaram a ser apontados como autores do crime.

Acredita-se que ela tenha sido morta e o corpo, ocultado. Edmilson se engajou nas buscas por informações que levassem ao paradeiro da sobrinha e passou a cobrar com veemência a apuração do caso e a prisão dos envolvidos.

 

 

 

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