Os movimentos sociais organizados no campo e na cidade realizam nesta quinta-feira (29) o Dia Estadual de Luta contra Violência no Campo e na Cidade e em Defesa do Povo Alagoano. Nesta data, marcada pela morte do líder Sem Terra Jaelson Melquíades em 2005, os movimentos sociais do campo, sindicatos, movimentos populares e estudantis vão às ruas para denunciar as injustiças sociais que acometem a classe trabalhadora, tanto do meio rural quanto urbano.
Os manifestantes iniciam o dia no Povoado Ouricuri (Atalaia), a partir das 8h, com um momento em memória a Jaelson, no local de sua morte. Esta mesma terra que viu tombar Jaelson Melquíades, hoje é palco de conflito agrário envolvendo a pressão dos latifundiários da região, que ameaçam a permanência de dezenas de famílias acampamento São José. Após a celebração mística em Atalaia, uma carreata segue para a capital Maceió.
“A violência e ameaças no campo se somam às práticas antissindicais na cidade”, analisa trecho da Carta Aberta ao Povo Alagoano, divulgada pelos movimentos, o que gera um clima de perseguição e criminalização daqueles que defendem direitos como educação de qualidade, saúde pública ou o direito ao acesso à terra. “Na educação vimos o absurdo da criminalização do movimento sindical, onde o governo ataca os princípios básicos da democracia, agredindo a representação sindical”, denuncia.
Uma grande concentração e marcha está agendada para às 9h30, na praça Sinimbu, onde movimentos do campo e da cidade se aliam para denunciar o caráter sistêmico dos ataques do Estado (sob a tutela de Teotônio Vilela-PSDB) aos direitos constituídos, a exemplo do recente decreto que desconfigura o Conselho Estadual de Educação, e autoproclama o governador como seu novo presidente.
Participam da mobilização o MST, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e demais representações da base sindical e de movimentos populares e estudantis.
Leia abaixo a íntegra da Carta divulgada pelos movimentos:
CARTA ABERTA AO POVO ALAGOANO
Alagoas, um “caos” anunciado!
Estamos chegando ao final do ano e nosso Estado ainda amarga uma realidade de destruição em todos os aspectos sociais, econômicos e políticos.
Temos mais de 4 mil mortes violentas registradas, enquanto nosso aparato policial sofre com o descaso de anos sem investimentos e dignidade profissional. Delegacias caindo aos pedaços , equipamentos ultrapassados , resultando em inquéritos parados, e policiais desmotivados . Há ainda a falta de policiamento ostensivo regular, por absoluta incompetência das autoridades responsáveis, que não apostam no aumento do efetivo, muito menos em dar incentivos salariais para termos uma polícia decente.
Na educação vimos o absurdo da criminalização do movimento sindical , onde o governo ataca os princípios básicos da democracia, agredindo a representação sindical - isso sem apresentar nenhuma alternativa para o caos que impera na área. Nossas escolas, a exemplo das delegacias e destacamentos da PM, sofrem com os anos de desprezo e abandono . Os trabalhadores em educação, sem qualquer tipo de incentivo que venha a favorecer um ensino de qualidade, têm a missão sagrada de garantir o futuro das novas gerações de alagoanos. Ainda sobre a educação, o governo ataca descaradamente os aposentados e ainda tem o mesmo descaramento ao tentar jogar setores da categoria contra aqueles que trabalharam durante toda uma vida na luta por uma educação de qualidade.
A saúde é outra ferida aberta no seio da sociedade alagoana. Postos e hospitais pedindo socorro diariamente sem que os gestores tenham qualquer sensibilidade para resolver o problema. Enquanto isso, a população sofre e morre em corredores hospitalares cheios, desprovidos do básico para salvar as vidas daqueles que, infelizmente, acabam dando entrada no sistema de saúde por necessidade. Com relação aos profissionais de saúde, a situação também não é boa . Anos e anos sem reajustes dignos acabam por transformar um exército de profissionais abnegados em massa desmotivada , o que só aumenta o problema.
Como todos nós sabemos, o governador de Alagoas é proprietário de usina e tem trabalhado muito bem para seus também ricos colegas . Recentemente, ele reeditou o acordo dos usineiros dando isenção para a sua PRIVILEGIADA “categoria” no montante de mais de R$ 400 MILHÕES DE REAIS em impostos! Ou seja, o Governo de Alagoas, um dos estados mais pobres do país , abriu mão de R$ 400 milhões para beneficiar os que mais têm dinheiro em Alagoas . Pior : o governo ainda conseguiu a aprovação de um empréstimo de mais de UM BILHÃO DE REAIS (!!!) , elevando para patamares estratosféricos a já insustentável dívida de Alagoas. Paralelo a isso, ainda programa uma política de desmonte do serviço público , adotando modelos reconhecidamente ineficientes, como as Ocips, OS e Fundações, através das nocivas PPP’s (Parcerias Público-Privadas).
Trabalhadores do campo, responsáveis pelo nosso alimento de cada dia, tem sofrido com a violência impune há anos. Homens e mulheres sendo assassinados brutalmente , como se não existissem leis. Vivemos no campo uma realidade de crimes esquecidos , ameaças constantes e desrespeito à vida dessas famílias.
Por tudo isso, sabemos que será preciso um despertar da sociedade contra esse descaso “alimentado” pela incompetência governamental . Precisamos reagir e lutar por uma mudança urgente ! Caso contrário, continuaremos a conviver por muito tempo ainda com os graves problemas e as constantes ameaças à Saúde, Educação e Segurança públicas.
Em defesa de Alagoas e do povo alagoano , CUT, SINDICATOS, MST, MTL, CPT e MLST conclamam a sociedade a lutar contra quem está destruindo o nosso estado . Participe! Lute!