Entre os dias 2 e 4 de março foi realizada em Barra de São Miguel, Alagoas, a 22ª Assembleia Estadual da CPT Alagoas. Confira a Carta divulgada pelos participantes: “A terra é de quem trabalha, a história não falha, nós vamos ganhar”
CARTA DA 22ª ASSSEMBLEIA ESTADUAL DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
Trabalhadores e trabalhadoras rurais, acampados e assentados da reforma agrária de Alagoas, nos reunimos como Comissão Pastoral da Terra na 22ª Assembleia Estadual, na Barra de São Miguel, nos dias de 2 a 4 de março de 2011.
Viemos a esta Assembleia carregando nos nossos corpos as marcas das lutas para ter acesso definitivo a uma terra na qual queremos trabalhar e viver com dignidade. Nestes últimos dois meses resistimos às decisões de despejos judiciais, bem planejados, mas para nós totalmente inesperados e injustos.
Ficamos também indignados com a venda e compra de lotes em alguns assentamentos, fato que consideramos grave e criminoso, e que de propósito vem se repetindo neste último período com o objetivo de desmoralizar diante da sociedade a Reforma Agrária. Apesar de tudo isso, afirmamos que iremos continuar esta luta por terra e liberdade, pois é nosso sonho vivermos felizes e organizados, trabalhando a terra e produzindo alimentos.
A classe camponesa não está desistindo da luta pela terra e não renuncia ao sonho da Reforma Agrária ampla e produtiva em Alagoas. Para isso, nos juntaremos a todos os movimentos do campo para realizarmos ações unificadas, ocupando espaços e realizando novas manifestações. Exigimos do novo governo uma nova pauta para a Reforma Agrária, como: novos índices de produtividade, o limite máximo da propriedade da terra e o fortalecimento e renovação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). E para isso, a Comissão Pastoral da Terra já encaminhou à Presidente Dilma Rousseff o pedido que a Reforma Agrária seja recolocada em pauta nas decisões de seu Governo. Quanto a nós estamos dispostos a realizar todas as ações necessárias para garantir nossos direitos.
Durante a Assembleia analisamos que no nosso Estado vem sendo praticada uma grande devastação do meio ambiente e a destruição da rica biodiversidade, por parte de um modelo econômico produtivista que visa somente lucro e riqueza. Os grandes canaviais e as grandes fazendas de gado são responsáveis desta obra devastadora da natureza e produtora de miséria social no nosso Estado. Diante disso, nós camponeses e camponesas assumimos com maior empenho o compromisso de trabalhar a terra de modo sustentável e ecológico, preservando e não destruindo, recompondo as matas e produzindo alimentos sadios.
Estamos dispostos a realizar todas as ações necessárias para garantir nossos direitos, cooperando com nossa agricultura camponesa na preservação do meio ambiente e no cuidado com a Mãe-Terra. Contaremos com nossos filhos e filhas, que estão se qualificando para ter competência técnica para contribuir na efetivação de uma maior produção na perspectiva ecológica e respeitosa do meio ambiente.
A agressão à natureza e o aquecimento do clima afetam gravemente a vida de todos. Nós, povo da terra com vocação camponesa, sofremos junto com a terra: os rios estão secando; as matas foram destruídas; as enchentes nos ameaçam; o tatu e o curió são raros; os agrotóxicos das usinas mataram os peixes e os pássaros. A Terra sofre e nós sofremos também! O modelo capitalista com sua sede insaciável de lucro e de riqueza é responsável deste desastre ambiental e social. O consumo irresponsável de muitos, o desperdício de energia e de comida, o lixo jogado de qualquer jeito, tudo isso nos preocupa e nos motiva ainda mais a assumir novas atitudes de relação com a terra e novas práticas de produção, de plantio e de criação nas nossas áreas.
Em consonância com a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica, assumimos a prática da agricultura camponesa como cooperação na defesa e preservação da vida no planeta.
“A Terra sofre e geme em dores de parto” (Rom. 8)
É com a nossa luta e nossa fé que queremos colaborar na plena e feliz realização deste parto, quando finalmente teremos uma Reforma Agrária justa e produtiva, em um mundo mais fraterno e feliz.
A 22ª ASSEMBLEIA ESTADUAL DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
Barra de São Miguel, 04 de março de 2011