Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Os Movimentos de luta pela terra que compõem a Via Campesina organizaram uma série de mobilizações e manifestações em diversos estados do país, entre os dias 10 e 13 de junho. As ações fizeram parte da Jornada Nacional de Luta contra o agronegócio e em defesa da Agricultura Camponesa.


Em Pernambuco, as mobilizações da Jornada tiveram como destaque a denúncia contra os impactos causados pelo agro-hidronegócio, a exemplo da expansão do monocultivo da cana-de-açúcar e a transposição do Rio São Francisco. Na Zona da Mata do estado, cerca de 200 trabalhadores ocuparam a Sede da Estação Experimental de Cana-de-açúcar (EECAC), localizado no município de Carpina, no último dia 10.  Em outras ações realizadas no sertão do Estado, os agricultores protestaram contra contra a transposição do Rio São Francisco.

Segundo Messilene Gorete, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Pernambuco (MST PE), “a Jornada teve como principal objetivo fazer a luta contra o agronegócio e as transnacionais, que causam o aumento do preço dos alimentos e potencializam a desnacionalização das terras, e também fazer a luta contra os agrocombustíveis, a monocultura da cana-de-açúcar, do eucalipto e a empresas de celulose”. “Pois, para os camponeses esse modelo é excludente e não resolve os principais problemas sociais do Brasil, o que queremos é garantir a soberania de nosso país, principalmente a soberania alimentar”, completou.


Ações contra o agro-hidronegócio

Na ocasião da ocupação da EECAC, os agricultores protestaram contra o avanço do monocultivo de cana na região, que, além de ser sustentado pelo trabalho escravo, têm prejudicado ainda mais a produção de alimentos para o consumo da população local. Durante a ação, os trabalhadores destruíram mudas de variedades de cana, inclusive de espécies transgênicas, e cortaram dois hectares do monocultivo que haviam sido plantados no local.  A EECAC é uma Parceria Público-Privada entre o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar) - que reúne as 20 maiores usinas do Estado - e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Além de debater os malefícios causados pelo monocultivo da cana, a ação também ampliou a discussão sobre o papel que a universidade pública deve ter com a sociedade. A Via Campesina Pernambuco, ressaltou, em nota oficial, que o objetivo da ação não foi um ataque à universidade ou às pesquisas acadêmicas em geral. “Queremos fazer entender que a responsabilidade da universidade publica é para com o povo e não com o agronegócio e o capital financeiro” afirmam. Segundo Plácido Júnior, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com a repercussão desta ocupação, a população teve acesso à informações de interesse público que antes eram restritas à iniciativa privada, como por exemplo, os recursos públicos destinados à pesquisas para beneficiar os usineiros.

No sertão do estado, os trabalhadores rurais realizaram ações direcionadas para o combate do projeto de transposição do Rio São Francisco, que visa beneficiar o hidronegócio e a produção para exportação e não atende as necessidades das populações que vivem na região do semi-árido nordestino.

Para Plácido, “apesar da cobertura da imprensa ter criminalizado as ações da jornada, conseguimos ampliar o debate com a população sobre nossas bandeiras de luta, mostrando qual o modelo de agricultura que defendemos”. Segundo ele, o fato da jornada ser nacionalmente veiculada como uma ação da Via Campesina, contribuiu para o fortalecimento das articulações entre os movimentos de luta pela terra. Além disso, Plácido ressaltou que a participação de articulações de movimentos urbanos, como a Assembléia Popular, fortaleceu ainda mais a unificação entre os trabalhadores do campo e da cidade.

 Resumo das Ações da Jornada de Lutas da Via Campesina em Pernambuco

 
Dia 10 –

  • Ocupação da Estação Experimental de Cana-de-açúcar (EECAC)

Dia 11 -

  • Protesto em frente a sede da empresa Netuno pescado
  • Ocupação da sub-estação de distribuição da Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco (Chesf)
  • Trancamento da BR 316 (que liga Petrolândia e Paulo Afonso)

Dia 12 -

  • Trancamento da BR 110 (que liga Inajá a Ibimirim)
  • Trancamento da BR 232 (em Pesqueira)

 

 

 

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