A América Latina e o Brasil tem todas as condições de serem de fato os celeiros do mundo, mas precisam promover uma reforma profunda em sua estrutura agrária para acabar com a pobreza e a fome, além de garantir que o meio ambiente será preservado. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (16), em um relatório encomendado pelo Banco Mundial (Bird) e pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que alerta que o modelo da agricultura brasileira não solucionou a crise social no País nos últimos 50 anos.
Cerca de 400 cientistas e especialistas de todo o mundo fizeram parte do esforço de pesquisa e concluíram que os países latino-americanos usam apenas 25% da capacidade agrícola da região. O alerta é feito em meio a uma das maiores crises de alimentos no mundo nos últimos 30 anos. Para os especialistas, a reforma no setor agrícola na região será necessária para
garantir a segurança alimentar da população latino-americana.
Segundo o levantamento, submetido aos diversos governos, entre eles o Brasil, a América Latina tem o maior estoque de terras aráveis do mundo, com 576 milhões de hectares (cada hectare corresponde a 10 mil metros quadrados). Isso representa 30% de toda terra áravel do planeta, sendo que uma parte substancial está no Brasil.
O problema, segundo os especialistas, é que essas terras estão concentradas nas mãos de poucos e não são usadas de forma eficiente. Para piorar, a produção agrícola é altamente poluente na região, afetando a disponibilidade de terras no futuro.
A conclusão do levantamento é que, nos últimos 50 anos, o modelo agrícola da região trouxe poucos benefícios sociais e 54 milhões de pessoas ainda passam fome. O problema, segundo o estudo, não é a falta de capacidade de produzir alimentos. Um maior cultivo não adiantaria para garantir o fim da fome na região e a solução teria de vir de uma nova estrutura agrária.
Segundo o documento, os pobres latino-americanos sofreram uma perda de seu acesso a terras nos últimos 50 anos.
MEIO AMBIENTE - Um dos principais alertas ainda se refere ao meio
ambiente. Segundo os especialistas, a América Latina tem cinco dos dez países com maior biodiversidade do mundo e reúne 40% das reservas genéticas do planeta. Mas o documento adverte que a expansão da agricultura, principalmente no Brasil, está tendo um impacto negativo sobre o meio ambiente.
Um exemplo é o avanço da agricultura na Amazônia, considerado como preocupante. O fornecimento de água no Brasil também já pode estar sendo afetado pelas práticas degradantes no campo, além de registrar impactos negativos no Cerrado e no Pantanal.
ETANOL - Os especialistas também alertam sobre a expansão do etanol e pedem que os governos façam análises cuidadosas sobre o impacto do combustível. Segundo o estudo, o etanol de fato gera novas oportunidades para o setor rural e para os pequenos agricultores. Mas existem impactos negativos que precisam ser tratados.
Há ainda o risco de que o etanol incremente os problemas de fome na região, se não houver um planejamento. Esse problema estaria sendo grave na América Central.
SOLUÇÕES - Para os especialistas, a solução para a América Latina tirar proveito da agricultura para resolver os problemas sociais passa por um melhor uso da terra, maior acesso dos pobres à produção e a diversificação dos cultivos.
Na avaliação dos especialistas, a região precisa introduzir um modelo que permita que a agricultura tradicional, a convencional e a agro-ecologia possam conviver. O estudo também destaque que o uso de novas tecnologias pode ser uma forma de garantir a biodiversidade e ajudar os pequenos produtores.
Fonte: Agência Estado, Publicado em 16.04.2008, às 15h57
ONU: atual modelo agrário do Brasil não combate a fome
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