Produção de grãos neste ano deve render R$ 85 bilhões, valor mais alto da história e 40% acima do de 2007.
A safra de grãos que começa a ser colhida no Centro-Sul do País deverá render aos agricultores R$ 85,4 bilhões, o maior valor da história. Essa montanha de dinheiro, que é quase 40% maior que o faturamento de 2007, começa a movimentar os negócios no interior com a venda de imóveis e automóveis. Os fabricantes de máquinas agrícolas e tratores se preparam para ampliar a produção e contratar trabalhadores.
“É o segundo ano consecutivo de recuperação da agricultura de grãos, depois de ter atingido o fundo do poço em 2006”, afirma o diretor da RC Consultores Fabio Silveira. Ele estimou a receita da safra com base nas cotações internacionais dos grãos e nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A maior ameaça ao desempenho positivo é o clima seco, que já começa a fazer estragos na cultura de feijão (mais informações na página ao lado).
O que chama a atenção é o aumento da receita em proporção bem superior ao volume físico. De acordo com a consultoria, a produção de soja, milho, arroz, algodão, arroz, feijão e trigo, entre outros grãos, deve atingir 139 milhões de toneladas em 2008, apenas 3,7% mais que no ano anterior. Isso significa que os preços elevados das commodities vão garantir o crescimento da receita. Só a dobradinha soja/milho responderá por cerca de 80% da renda da agricultura de grãos neste ano.
Além do cenário mundial de escassez de soja e da aposta dos Estados Unidos na produção do etanol de milho, outro fator começa a impulsionar a cotação das commodities. Com a perspectiva de queda dos juros americanos para atenuar o desaquecimento da economia local, fundos de investimentos começaram a apostar nas commodities em geral e, especialmente, nas agrícolas, observa Silveira. Ele destaca que, a partir de dezembro, começou o repique das cotações de grãos. Com isso, o preço da soja atingiu níveis recordes na Bolsa de Chicago. O produto superou os US$ 12 por bushel (equivalente a 27,21 quilos), ante a média histórica de US$ 6.
A disparada de preços foi uma injeção de ânimo na economia do interior, que começa a contabilizar bons resultados antes mesmo da colheita. Na concessionária Vianorte Veículos, com lojas em Sinop (MT)e Sorriso (MT), maior produtor de soja do País, a lista de espera para a compra de caminhonetes tem 150 nomes.
“A maioria é de produtor rural”, conta o operador da concessionária, Antonio Parola Montana. No mesmo período de 2007, a lista de espera não passava de 30 pessoas. “Fazia tempo que não se via o mercado tão aquecido”, diz Marco Antonio Pogioli, superintendente de Vendas da Zacarias Veículos, de Maringá (PR), outro pólo produtor de soja. Desde o início do ano, a loja vendeu 20 caminhonetes, que serão entregues dentro 70 dias. A maioria é para agricultores. “A GM tem até um plano de financiamento semestral, cujo pagamento coincide com a entrada de recursos da safra”, conta Pogioli.
A Granado Imóveis, também de Maringá, sentiu os impactos da agricultura na venda de imóveis. “Só hoje (sexta-feira) fechei três negócios”, disse João Granado, presidente do grupo, que tem uma construtora e uma imobiliária. Normalmente, afirmou, a venda de imóveis é fraca em janeiro.
Ele atribui a mudança à valorização da soja, que deu mais segurança aos agricultores e às pessoas que trabalham em setores relacionados com o campo irem às compras. A preferência é por apartamentos na faixa de R$ 200 mil e o principal objetivo é investir.
INCERTEZAS
No segmento de máquinas agrícolas e tratores, a expectativa é grande, mas há incertezas. A John Deere, fabricante de tratores e colheitadeiras, vai investir R$ 40 milhões na fábrica de Horizontina (RS), segundo o gerente de Vendas, Paulo Kowalski.
João Carlos Marchesan, diretor-superintendente da Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas e vice-presidente da Abimaq, conta que a sua empresa pretende contratar cerca de 800 trabalhadores este ano para atender à maior demanda.
“Mas não está tudo maravilhoso”, pondera. O empresário argumenta que o endividamento do setor é alto, perto de R$ 130 bilhões, e boa parte dos agricultores vendeu a soja quando a cotação era menor que a atual.
Levantamento da Associação dos Produtores de soja de Mato Grosso (Aprosoja), o principal produtor, revela que 65% da safra do Estado foi vendida antecipadamente, abaixo de US$ 13 a saca de 60 quilos. Hoje a saca sai por US$ 22. “Quem vai ganhar é o especulador”, diz o presidente da Aprosoja, Glauber Silveira Silva.
Fonte: estadao.com.br, 13-01-08