Grandes vilões da inflação em 2007, os alimentos subiram 10,79% e levaram o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) a fechar o ano com alta de 4,46%. O índice por pouco não estourou o centro da meta do governo -de 4,5%, com intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Dezembro fecha com alta de 0,74% no IPCA e IBGE vê mais pressão dos alimentos em 2008; valorização do real impede estouro da meta PEDRO SOARES DA SUCURSAL DO RIO
Em 2006, o índice, usado para balizar a política monetária, havia fechado em 3,14%. A alta em 2007 interrompe trajetória de queda iniciada em 2002.
Pressionados por aumento de preço de commodities e leite, clima desfavorável e expansão da renda e do poder de compra que aumentam a demanda, os alimentos tiveram a maior alta desde 2002 (19,47%). Em 2006, subiram só 1,22% e ajudaram a conter a inflação. Por causa do choque dos alimentos, especialistas corrigiram suas expectativas de inflação ao longo do ano. No começo de 2007, o consenso apontava para taxa pouco acima de 3%.
Em 2007, o IPCA só não subiu mais graças ao efeito benéfico do câmbio que segurou especialmente preços administrados, como tarifas de energia e telefone, de eletrodomésticos (recuou 1,84%) e TV, som e informática (-9,93%), o que atenuou a pressão dos alimentos. "Os alimentos foram a vedete de 2007. Foi o grupo que mais subiu e o de maior contribuição para o IPCA, correspondendo à praticamente metade da taxa ", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preço do IBGE.
Em 2007, o grupo alimentação representou 2,21 pontos percentuais do IPCA. Os itens de maior impacto foram carnes (alta de 22,15%), leite e derivados (19,79%) e feijão (109,2%, em média). Sozinhos, os três contribuíram com 1,06 ponto percentual da inflação do ano.
Em dezembro, mais uma vez, o grupo alimentação turbinou a inflação, que subiu 0,74%, puxada pelo aumento de 2,06% do grupo alimentação -o maior desde janeiro de 2003 (2,15%). Só as carnes registraram avanço de 8,20% em apenas um mês.
E o pior é que não se espera um arrefecimento dos preços no início deste ano. "A inflação deve continuar pressionada. Não há perspectiva de retorno dos preços dos alimentos", disse Nunes dos Santos.
Por trás da alta dos alimentos, disse ela, está o maior consumo mundial especialmente de países emergentes e o crescente uso das lavouras para a produção de álcool.
Segundo ela, os EUA destinaram mais área para o milho usado na fabricação de álcool. Com isso, afirmou, sobrou menos terra para o cultivo da soja, e os preços dos dois produtos subiram. Como são commodities, a alta afetou todo o mundo.
Os alimentos também aumentaram na esteira do maior consumo e de problemas climáticos enfrentados em diversos países. Um exemplo foi a Austrália, onde houve quebra de safra de leite e trigo principalmente. Com a menor oferta desses itens, os preços também cresceram.
No Brasil, o clima afetou especialmente o feijão, produto cujo preço saltou de cerca de R$ 2 o quilo no início de 2007 para até R$ 8 em algumas regiões.
Âncora cambial
Não fosse o dólar, a inflação teria superado o centro da meta do governo, alerta o economista Luiz Roberto Cunha: "O IPCA teria superado os 5%".
Âncora da inflação em 2007, quando recuou 16,85% em relação ao real, o dólar segurou preços de importados e de produtos nacionais que passaram a concorrer com similares do exterior. Determinou ainda aumentos menores de preços administrados e tarifas públicas, atreladas aos IGPs de 2006, que subiram menos em razão do dólar baixo.
A principal pressão negativa veio da energia elétrica -queda de 6,16%. O conjunto dos administrados teve impacto de 0,51 ponto no IPCA de 2007, menos do que o 1,38 ponto de 2006.
Fonte:Folha de S. Paulo, 12/01/08.