Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

O Dia Nacional da Agroecologia, oficializado pelo Congresso Nacional em 2017, é uma ocasião especial para refletir sobre a importância desse sistema como uma alternativa viável e essencial na produção de alimentos. Além disso, esse dia celebra os benefícios da agroecologia em reduzir o impacto ambiental, fomentar direitos sociais e igualdade. A data é também uma homenagem àquela que é considerada a precursora desse modelo no Brasil, a agrônoma Ana Primavesi.

 

Por Marcelo Lima
Do Jornal Plural e Professor da UTFPR

O Dia Nacional da Agroecologia, oficializado pelo Congresso Nacional em 2017, é uma ocasião especial para refletir sobre a importância desse sistema como uma alternativa viável e essencial na produção de alimentos. Além disso, esse dia celebra os benefícios da agroecologia em reduzir o impacto ambiental, fomentar direitos sociais e igualdade. A data é também uma homenagem àquela que é considerada a precursora desse modelo no Brasil, a agrônoma Ana Primavesi.

Para Cristina Sturmer dos Santos, economista e agricultora militante do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a exploração intensiva dos recursos naturais pelo sistema produtivo convencional tem causado impactos ambientais e sociais bastante negativos. Por esta razão, a agroecologia surge como uma alternativa que propõe uma abordagem sustentável.

“Ela nos faz repensar nossa relação com a natureza e a agricultura, mas também como nos relacionamos com outros seres humanos e animais. Isso nos encoraja a questionar e a buscar novas formas de organizar nossa sociedade”, afirma Cristina, que mora no assentamento Santa Maria, localizado em Paranacity, município do noroeste do Paraná, e está associada à Copavi (Cooperativa Agrícola Vitória Ltda.).

A agroecologia, segundo ela, vai muito além da produção de alimentos. “Esse sistema incentiva a questionar questões como o machismo, a homofobia, as desigualdades sociais e a discriminação etária. Além disso, leva a repensar como os alimentos são produzidos, como nos organizamos, como consumimos e como abastecemos os sistemas alimentares”.

Para a agricultora, um dos impactos positivos da agroecologia é a transformação que tem proporcionado em comunidades rurais brasileiras. “Ela tem atraído mais jovens, mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+ para os territórios agrícolas, contribuindo para a diversidade e o enriquecimento da luta dos povos tradicionais”.

20 anos de jornadas

O MST tem desempenhado um papel de destaque na promoção da agroecologia. Desde o ano 2000, o movimento vem fazendo uma transição em seus assentamentos para esse modelo produtivo, associando-o à luta pela terra e à aliança entre campo e cidade. Hoje, a agroecologia tem papel de destaque no projeto de reforma agrária defendido pelo movimento.

Para celebrar e promover essa abordagem, o MST realiza anualmente as jornadas da agroecologia, eventos que acontecem em diversas partes do Brasil. As jornadas englobam a venda de produtos, oficinas, palestras e apresentações artísticas. Neste ano, a 20ª edição do evento acontece de 22 a 26 de novembro, no campus Rebouças da UFPR, em Curitiba.

Cristina relembra o processo de transição para o sistema de agroecologia no MST. Seu envolvimento com esse sistema está relacionado com a experiência da Copavi, assim como sua própria vontade de estudar esse tema na sua formação como economista na universidade. “Foi um processo intenso, especialmente em 2000, quando tomamos a decisão, no congresso do MST, de fazer essa transição para a produção sustentável. E o que já fazíamos na produção e vida do assentamento recebeu o nome de agroecologia”.

Pioneira

O conceito de agroecologia surgiu com os trabalhos da agrônoma Ana Maria Primavesi (1920-2020). Nascida na Áustria, ela estudou agronomia em Viena na década de 1940, onde conheceu seu futuro marido, o também agrônomo Artur Primavesi, com quem se fixou no Brasil em 1948. No novo país, acompanhou de perto as mudanças do sistema de produção da agricultura, de um modelo tradicional para a intensificação da produção com o uso de produtos químicos e a prática da monocultura.

Passou por diversas cidades brasileiras antes de se tornar professora universitária e, com base em experiências que desenvolveu como agrônoma em parceria com seu marido, tornou-se pioneira na recuperação de áreas degradadas, promovendo uma agricultura sustentável que valoriza a atividade biológica do solo e reduz o uso de produtos químicos. Como professora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ela contribuiu para a criação do primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica. Depois de se aposentar, fundou a Associação da Agricultura Orgânica (AAO).

Em seus trabalhos como pesquisadora, ela defende a interconexão entre os elementos naturais, promovendo o uso de práticas agrícolas que respeitem os ciclos e equilíbrios da natureza. Primavesi também enfatizava a valorização dos conhecimentos tradicionais dos agricultores e da pesquisa científica aplicada à agricultura orgânica, visando resiliência e conservação dos recursos naturais.

Ao longo de sua trajetória, ela compartilhou seu conhecimento com agricultores, estudantes e profissionais agrícolas, incentivando práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente e promovendo uma agricultura mais equitativa e saudável. Ela faleceu em São Paulo em 5 de janeiro de 2020, aos 99 anos.

*Editado por Fernanda Alcântara

 

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