O documentário tem o objetivo de promover a denúncia do aliciamento, das condições degradantes de trabalho e da escravidão nas usinas de açúcar e álcool. Foram capturadas 25 horas de depoimentos dos canavieiros superexplorados. O filme enfatiza a vulnerabilidade dos canavieiros migrantes para o trabalho escravo, por estarem longe de suas famílias e, na maioria dos casos, sem condições de retorno por conta própria.
A superexploração do setor sucro-alcooleiro
Em Alagoas, o trabalho clandestino é uma prática ilegal ainda muito utilizada nos canaviais. Na tentativa de burlar as leis trabalhistas, as usinas que usufruem dessa mão-de-obra atribuem as responsabilidades ao empreiteiro, o que dificulta a aplicação das penalidades e desvia o foco dos verdadeiros responsáveis por essas violações. No acompanhamento feito pela CPT a comunidades de assalariados rurais, é numerosa a quantidade de canavieiros que nunca tiveram sua CTPS assinadas. Nesses casos, um trabalhador que corta cana desde a adolescência é levado a esperar os 65 anos de idade para conseguir o benefício da aposentadoria.
Atraídos por promessas de melhores oportunidades de trabalho nas regiões norte, centro-sul e sudeste do país, milhares de alagoanos têm migrado todos os anos para o trabalho em usinas de cana-de-açúcar. As viagens acontecem no final da safra do Estado de Alagoas – período que corresponde ao início da safra nos estados de destino. Nesse regime de sazonalidade, os canavieiros migrantes (numa expressiva maioria de homens) permanecem longe de suas casas em média 9 (nove) meses por ano. Segundo os assalariados da cana acompanhados pela CPT, a migração ocorre por falta de oportunidades de emprego em Alagoas no período da entressafra. Na maioria dos casos, a viagem é feita de forma irregular (a carteira de trabalho não é assinada, o custo da viagem é descontado no primeiro salário recebido, assim como as despesas com alimentação, alojamento, equipamentos de proteção e remédios – em caso de doenças). Das violações ocorridas, os migrantes ressaltam os descontos abusivos nos salários e a falta de infra-estrutura nos locais de alojamento. Em alguns casos, os trabalhadores são impedidos de voltar ao estado de origem pela falsa dívida que acumularam durante os meses de trabalho, o que configura regime de escravidão por dívida.
TABULEIRO DE CANA, XADREZ DE CATIVEIRO (AL) – Documentário – 35’
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Sinopse:
Brasil - 2006. São 118 anos desde a abolição, que não conseguiu acabar com a escravidão no país.
Agora sem grilhões, sob o manto da legalidade, do direito à propriedade, do lucro. Uma escravidão que vitima diariamente milhares de trabalhadores alagoanos, pernambucanos, baianos... Todos brasileiros. Uma escravidão que não tem endereço fixo, que visita as pontes de rua onde o desemprego e a falta de oportunidades se transformam em correntes.
Nos tabuleiros de cana, a escravidão que vem da necessidade, da sobrevivência. Um cativeiro que destrói famílias, afugenta sonhos e leva para longe qualquer esperança de uma vida digna.
Ficha técnica:
Direção e edição: Thalles Gomes
Roteiro: Thalles Gomes, Carlos Lima e Lilian Nunes
Produção: Lilian Nunes e Carlos Lima
Trilha sonora: Jurandir Bozo e Wilbert Fialho
Pós-produção e finalização: TV Mangue
Realização: CPT Alagoas