Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

 

Nesta quarta-feira, 05/06, começou a 30ª Feira Camponesa, realizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Praça da Faculdade, situada no bairro do Prado, em Maceió/AL. A mesa de abertura oficial do evento contou com a presença de dirigentes  de sindicatos e movimentos sem-terra, do Governo do Estado através do Iteral (Instituto de Terras de Alagoas), além do coordenador da CPT, Carlos Lima, e da camponesa do Assentamento Jubileu, Maria Cícera, representando os sem-terra participantes.

A cerimônia foi iniciada com uma performance teatral dirigida pelo cantor e compositor alagoano, Gustavo Gomes. Nela, junto ao músico, camponeses e agentes pastorais levaram a reflexão sobre a luta pela terra, a Feira Camponesa e a resistência do campesinato nas ocupações dos imóveis rurais e nas mobilizações para manter conquistas. Gomes recebeu uma homenagem pelo seu apoio à CPT ao final da apresentação.

Durante a abertura, aconteceram saudações por parte das lideranças. A maioria aproveitou o momento para cobrar uma política efetiva e planejamento por parte do Governo de Alagoas para as feiras e em favor do desenvolvimento da agricultura camponesa. Destaca-se, também, entre as intervenções, o chamado para a construção da Greve Geral no dia 14 de junho, em defesa dos direitos, contra a reforma da previdência - que atinge especialmente as mulheres, trabalhadores/as rurais e professores/as. 
Estiveram na mesa Izac Jackson, do Sindicato dos Bancários; Élida Miranda, da CUT/AL; Consuelo Correia, do Sinteal; Zé Roberto, do MST; Josival Oliveira, do MLST; Marcos Antônio (conhecido como Marrom), do MVT e o diretor presidente do Iteral, Jaime Messias da Silva.

Palavra de camponesa

A camponesa Maria Cícera falou sobre a dificuldade de produzir no campo diante do desvio de equipamentos destinados ao assentamento em que vive para outra função. Ela relatou que o assentamento recebeu um trator por parte do Governo do Estado, mas o veículo não se encontra na área, e sim na cidade. "Eu trabalho com as mãos cheias de calos, e cadê o trator? Está trabalhando para a Prefeitura! Esse trator é dos agricultores e foi cedido ao assentamento, então deve ficar no local. Lá existem 43 assentados. Quando vamos pedir o trator [dizem]: Já tem gente na frente! Para plantar o milho, eu tive que limpar e roçar a terra inteira para ter um produto bom. Era para o trator fazer isso. Não é uma situação só minha, mas de todos", denunciou a trabalhadora rural.
Maria Cícera também fez um depoimento sobre a Feira: "Eu agradeço a Deus por essa feira. Se fosse possível, ela aconteceria mais vezes. Mas não acontece como o trabalhador quer. (...) Hoje eu tenho 20 anos no assentamento Jubileu. Hoje eu tenho casa, terra e minha agricultura para trazer para a cidade. Antigamente, eu pagava aluguel. Hoje não pago mais. Sou grata à CPT por isso, porque foi através do movimento que conquistei minha casa e minha terra".

Segundo o historiador e coordenador estadual da CPT, Carlos Lima, a questão do trator é uma demanda apresentada em praticamente todas as feiras. "O governador prometeu tratores e apenas 40% chegaram e tem a possibilidade de chegar e não ser utilizado pelos trabalhadores", explicou. Disse, ainda, que muitas vezes o estado utiliza o discurso de que vai entregar uma máquina para os trabalhadores e, no final, o benefício é destinado aos prefeitos dos municípios e aos fazendeiros amigos deles. Mas, os camponeses se reinventam e buscam alternativas para permanecerem vivos e atuantes, apesar das dificuldades impostas, que têm como consequência o êxodo rural e o aumento da miséria nos centros urbanos. "Essa resistência é o que garante a nossa reprodução social", completou o integrante da Pastoral.


15 anos de Feira Camponesa
A Feira Camponesa é realizada desde 2004. Nas primeiras edições, a Praça da Faculdade encontrava-se abandonada. Os trabalhadores rurais levaram estrovengas para fazer a limpeza do local e viabilizar a montagem das barracas. Quando começaram as obras de revitalização da praça, as feiras continuaram a acontecer mesmo em meio à escombros e buracos de obras. Entretanto, de acordo com a organização, após as obras, os sem-terra enfrentaram a discriminação para continuar utilizando o espaço: "O prefeito quis nos retirar. Mas, seguimos há 20 anos ocupando esse espaço. O MST ocupou primeiro, depois, a praça recebeu a CPT", contou Carlos Lima. 
Muitas autoridades e figuras públicas passaram pela Praça da Faculdade para prestigiar as Feiras Camponesas nos últimos 15 anos. Os governadores Luís Abílio, Teotônio Vilela, Ronaldo Lessa e Renan Calheiros Filho caminharam no local e provaram os alimentos produzidos pelos sem-terra, seja nas feiras realizadas pela Pastoral da Terra ou por outras organizações do campo. Candidatos às eleições para vereador, prefeito, deputado e até mesmo para presidente, como o Zé Maria, do PSTU, foram lembrados na abertura desta 30ª Feira Camponesa. Porém, na avaliação da CPT, sem a aceitação da população, a feira não existiria por tanto tempo. 
"O mais importante é que a população venha, porque se não viesse, não adiantava vir nenhuma autoridade. Esse diálogo com a sociedade é fundamental. Nós começamos essa feira com 25 bancas e hoje temos feiras com 70, 80 e até 100 bancas", destacou o historiador.

A 30ª Feira Camponesa, montada na Praça da Faculdade até sábado, 08/06, possui 74 barracas, de 19 áreas distintas - de assentamentos e acampamentos das regiões da zona da mata, litoral e sertão alagoano.

Nesta edição, além do restaurante camponês com café da manhã, almoço e jantar e da "casa de farinha", há um espaço que a organização chamou de “Cantinho da Feira”, onde uma exposição de fotos e materiais de divulgação promete uma viagem no tempo de uma década e meia do evento.
A feira é aberta ao público com funcionamento das 5 às 23 horas. As barracas seguem abertas no horário dos shows, que vão animar a praça com muito forró e samba nos dias 05, 06 e 07, a partir das 19h.



Confira a programação noturna da feira (a partir das 19h):
5/6 (quarta-feira) - Kleber Canto / Mulheres na Roda de Samba
6/6 (quinta-feira) - Edi Ribeiro / Xameguinho
7/6 (sexta-feira) - Wagner Volpone / Bingo do carneiro Pinóquio do Acordeon

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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