Na tarde e noite desta quinta-feira (25) o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República, Fernando Haddad, reuniu 70 mil pessoas no Pátio da Igreja do Carmo, no centro do Recife. Para um público de várias regiões do estado, Haddad reforçou a confiança numa vitória no próximo domingo (28) e disse para a militância o que deve ser feito: "virar votos".
Na avaliação do presidenciável, o país vive um momento delicado e as pessoas estão sendo confundidas, enganadas. "Muitos estão sendo levados a votar numa pessoa sem currículo, sem serviço prestado e, pior, sem amor pelo país e pelo nosso povo", disse Haddad. Ele considera que esta sexta (26) e sábado (27) serão decisivos, pois muitas famílias procuram conversar para decidir seus votos.
Haddad também enalteceu o trabalho de militância que a população voluntariamente tem feito nas ruas. "Estão esclarecendo quem é Bolsonaro e o que ele pensa. Ele só fala absurdos a respeito do Brasil, das mulheres, dos nordestinos, dos negros. É uma pessoa que não respeita ninguém. E espero que o povo brasileiro se faça respeitar derrotando ele no domingo", clamou.
O presidenciável também mostrou confiança numa mudança de cenário até domingo. "A virada começou no Sudeste, pela cidade de São Paulo. Já é um sinal de mudança. Isso somado à maioria que temos no Nordeste, pode nos dar a vitória no domingo", apostou.
As falas do senador Humberto Costa (PT) e do deputado federal Silvio Costa (Avante) foram no mesmo sentido. Silvio disse que, diante do antipetismo, o eleitor deve apontar que Haddad, hoje, não representa só um partido. "Temos três dias para dizer ao Brasil que Haddad é o candidato da sensatez, da democracia, dos menos favorecidos, da inclusão social, o candidato da paz", disse.
O deputado também pediu calma para converter votos. "Eles são rebeldes cuja causa é o ódio, mas essa não pode ser a nossa causa. Não podemos alimentar o ódio. A nossa causa tem que ser a conversa", alertou Silvio Costa. Já Humberto clama esforço máximo nesses dois dias "pelo futuro do Brasil, para continuarmos construindo uma sociedade de inclusão e de redução das desigualdades".
Como tem sido tônica nos eventos públicos nesses últimos dias de campanha, Haddad cobrou coragem do seu adversário, o ex-militar Jair Bolsonaro (PSL), para enfrentá-lo em debates. "Ele diz que a estratégia é não ir ao debate. Mas eu nunca vi no exército alguém dizer que a estratégia é se esconder, fugir", ironizou.
Ele apontou a contradição do ex-militar em relação ao Brasil. "Ele não tem compromisso com a soberania nacional e nem com a soberania popular. Um soldadinho que bate continência para a baneira norte-americana não pode ser presidente do Brasil", provocou o ex-ministro da Educação.
Haddad também elevou o tom ao lembrar de declarações de Bolsonaro em relação a alguns grupos sociais. "Na última entrevista em que deu, ele disse que as mulheres, os negros, nordestinos deveriam 'deixar de se fazer de coitados'. Eu quero dizer para Bolsonaro, esse 'arregão', que coitado é você. Se toca, se olha no espelho", reclamou. "O Brasil merece muito mais que isso", avalia.
No comício, Haddad ainda fez a multidão cantar "parabéns para você" para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que faz aniversário no próximo sábado (27). "Pernambuco não abandona um filho que dignificou esse estado. Esse filho faz aniversário no sábado e eu quero dar um presente no domingo", afirmou.
Muitas falas destacavam o papel do Nordeste nesta eleição e resgataram o histórico de lutas de Pernambuco. "Aqui nesta praça trouxeram o corpo de Zumbi dos Palmares. Pernambuco era a capitania mais revolucionária. E aqui vamos virar esses votos", disse Dani Portela (PSOL). "Somos o estado da Restauração Pernambucana, da Revolução Praieira, das heroínas de Tejucupapo", disse a deputada federal Luciana Santos (PCdoB). "E nesse domingo vamos mostrar ao ditador que representa tudo o que há de pior na velha política do Brasil", completou ela, que é presidenta nacional de seu partido e foi eleita vice-governadora de Pernambuco.
Humberto Costa lembrou do legado do Partido dos Trabalhadores (PT) para o Nordeste. "Haddad e Lula trouxeram para o Nordeste emprego, educação, água, dignidade, condições de planejar nosso futuro", disse o senador. "E eles, o que têm para apresentar ao Nordeste? Capim. O Nordeste vai ser a barreira contra o fascismo", prometeu.
Algumas falas foram ovacionadas pela multidão, como a da empregada doméstica Sandra. ""Eu só passei a ter direitos depois que o PT colocou a PEC das Domésticas. E hoje tenho todos os meus direitos: oito horas trabalhadas, recebo FGTS, seguro desemprego, graças ao PT e eu não mudo meu voto. Meu voto é Lula e é Haddad", disse ela, lembrando que Bolsonaro votou contra a PEC das Domésticas.
A mesma recepção teve a estudante Manuella Mirella, do curso de licenciatura em química. "Sou estudante da UFRPE, mas antes disso sou uma Da Silva, filha de uma empregada doméstica e de um feirante, que achava que a universidade é um sonho distante, mas graças às políticas públicas dos governos do PT, graças à Fernando Haddad como ministro da Educação, eu entrei na universidade", comemorou.
Apostando numa vitória, Paulo Camara elogiou a condução de Haddad na campanha e desejou sorte. "O presidente Lula te deu a maior missão da sua vida, mas que você está cumprindo ela com dedicação, trabalho, espírito público, com a verdade. E você vai continuar fazendo o trabalho que o presidente Lula fez pelo Brasil", apostou o governador.
Também participaram do ato artistas locais, como os músicos Maestro Forró, Maciel Salú, Isaar França, Silvério Pessoa, os poetas Antônio Marinho e Isabelly Moreira, além de figuras do cinema pernambucano, como os diretores Kléber Mendonça Filho, Cláudio Assis e a atriz Maeve Jinkings.
Constrangimento
Durante as falas do governador Paulo Câmara e do prefeito do Recife, Geraldo Julio, ambos do Partido Socialista Brasileiro (PSB), foram vaiados quando estiveram no microfone. Ambos, em 2014, prefriram apoiar o candidato Aécio Neves (PSDB) no segundo turno diante de Dilma Rousseff (PT), além de terem apoiado a posterior derrubada de Dilma. Além das vaias, os dois se viram chamados de "golpistas" por parte da multidão presente. O PSB de Pernambuco, no entanto, foi um dos que defendeu nacionalmente a aliança com o PT.
Muitos também gritaram o nome da vereadora Marília Arraes (PT), recém-eleita deputada federal, mas que chegou a ser pré-candidata ao Governo de Pernambuco em oposição a Paulo Câmara. Gritos de "minha governadora" foram dirigidos a advogada Dani Portela (PSOL), que foi candidata ao governo.
Fernando Haddad (PT) arriscou falar sobre as vaias. "Quando estamos sob ameaça de alguém, temos que estar unidos, mesmo tendo divergências. Estou com todos esses na trincheira da democracia, em defesa dos direitos", afirmou, citando nominalmente alguns dos "novos aliados" do PT.
Edição: Monyse Ravena