Qual a semelhança da preparação de um pão e de um povo I?*
Para preparar um pão, você tem que ter a massa,
Uma forma – instrumento,
Uma receita – teoria de como fazer e alguém que prepare.
Para preparar um povo, pode-se seguir a mesma regra.
Pegue a massa, tenha um instrumento e aplique uma teoria.
Primeiro, reúna um grupo de dirigentes que guiará todo o processo,
Não precisa ser muito.
Esses dirigentes irão escolher um grupo de coordenadores.
Esse grupo de coordenadores será um pouco maior do que o grupo de dirigentes.
Os coordenadores se encarregarão de juntar e coordenar a massa, o povo.
Ao povo caberá a tarefa de seguir seus coordenadores,
Que por sua vez, serão guiados pelos seus dirigentes.
Quem e o que orientará os dirigentes?
Os dirigentes não serão orientados por ninguém,
Pois os mesmos seguirão uma orientação teórica.
Também não precisa criar uma teoria,
Ela já foi criada, importada e será o guia.
Os dirigentes municiados de uma teoria orientarão os coordenadores,
Que por sua vez conduzirão a massa.
Bom, já temos uma receita.
Com a receita em mãos, agora é preciso ter um instrumento.
Também não precisamos nos preocupar com isso.
Temos um acúmulo de construção de ferramentas.
É preciso definir qual a melhor para o momento.
Ah, que bom que existem os dirigentes
Para definir qual a melhor para ser usada.
Não é preciso ficar em cansativos debates,
Desde as massas e entre os coordenadores para definir qual melhor instrumento.
Tem os dirigentes para fazer isso.
Já temos a receita e o instrumento, que foi definido pelos dirigentes.
Agora é levar a receita e o instrumento para a massa.
A massa apropriada de uma teoria - um conhecimento que lhe externo,
Com um instrumento que não lhe coube pensar e construir,
Seguindo uma coordenação e guiada por um grupo dirigente,
Pode ser chamada de um povo preparado, formado.
Essa é uma forma de preparar um povo.
Qual a semelhança da preparação de um pão e de um povo II?
Referente ao pão, tem vários tipos,
Portanto, várias formas e formas para prepará-lo.
Já o povo, não se prepara e não se forma.
O povo se constitui nos processos sociais e de produção,
Conforme os lugares em que vivem.
A massa, o povo é diverso,
Étnico-culturalmente e geograficamente localizado.
Há vários processos organizativos que orientam
Os diversos povos e grupos sociais.
Povos e grupos sociais se classificam em seus processos de emancipação
E em suas lutas para permanecerem existindo –
Lutas emancipatórias e de re-existências.
Sejam nos campos, nas águas, nas florestas
Ou nos espaços tomados pelo concreto – a cidade.
E o que orienta esse povo e suas lutas?
Alguns, sua ancestralidade, os saberes repassados por gerações,
Os saberes construídos pelos viventes e pela humanidade.
Os saberes que são postos lado a lado,
Sem necessariamente negar um ao outro.
As experiências de vida vivida e a projeção de uma vida plena
Que não se deixam ser podadas, mutiladas e negadas.
É uma conjunção de lutas contra quem os nega
E lutas com quem se dispõe a construir caminhos.
Uma teoria forjada na vida vivida e nos processos de luta.
Os instrumentos são construídos conforme os processos de lutas.
Claro, alguns já existem e continuam sendo utilizados.
Outros precisam ser modificados, atualizados e aprimorados
Pelas necessidades atuais.
Muitas vezes, os instrumentos utilizados por um povo ou grupo social
Não necessariamente servirão para outro povo ou grupo.
Muitas vezes, as experiências são partilhadas
E servem para diversos processos de lutas.
Ou seja, não há um instrumento a ser priorizado.
Há instrumentos a serem utilizados, testados e confrontados.
É, não temos receitas, temos vários processos.
Não temos um instrumento a priorizar,
Temos instrumentos disponíveis para os mais variados processos de lutas.
Não temos um povo,
Temos várias formações sociais, culturais, econômicas, étnicas, ecológicas – territoriais.
Para o povo, não há de ter forma, formatação,
Muito menos receita.
Não temos que negar o que construímos,
Temos que nos atentar para o que está em curso.
O mestre já falou, “ninguém liberta ninguém, (...)”.
Plácido Junior
01/05/2018
* Texto escrito para reflexão, crítica e autocrítica entre companheiros e companheiras que sonham e lutam por um mundo justo, que colocam suas vidas em luta em defesa de tantas vidas.