Do fim da tarde desta segunda-feira (15/08) até o dia 18 de agosto de 2016, aproximadamente 80 pessoas, entre trabalhadores, trabalhadoras rurais, representantes de comunidades tradicionais e membros da CPT Regional Nordeste II estarão reunidos(as) em sua 16ª Assembleia Regional. Em depoimento à CPT, a coordenadora do Regional Nordeste II, Vanúbia Martins, reflete sobre as mudanças e os desafios para os povos do campo, os 41 anos da Pastoral e a conjuntura em que a Assembleia é realizada.
Desmonte de direitos - “A Assembleia da CPT NE II está sendo realizada em um momento extremamente delicado do país. Se nós já estávamos em um processo de negação de direitos dos povos do campo, da Reforma Agrária, agora temos um desgoverno e o desmonte total dos direitos e de órgãos responsáveis pelas pautas do campo”.
A permanência da luta e da resistência - "Apesar disso, há algo que não mudou: a luta e a resistência dos povos do campo. Desde que o Brasil é Brasil, e não Pindorama, os indígenas lutam para permanecer em seus territórios, os quilombolas lutam e resistem em suas terras e os/as camponeses/as, ao longo dos anos e dos tempos, fazem lutas para conquistar e permanecer na terra e produzir alimentos saudáveis. Isso não muda".
Os desafios de uma Pastoral de Fronteiras - Em 2016, a CPT celebra 41 anos de presença junto aos povos do campo, das águas e das florestas. Ao longo dessas décadas, a CPT continuou sendo uma Pastoral de fronteira e nas fronteiras, estas, cada vez mais próximas: a fronteira do agronegócio, da mineração, dos grandes projetos de desenvolvimento, as fronteiras onde avançam as energias eólicas e solares, que apesar de se apresentarem como renováveis, não possuem um formato sustentável, mas sim para beneficiar as grandes empresas. Nesses tempos, assistimos a um aumento cada vez mais forte do investimento ao agronegócio e um avanço do capital, interminável, sobre a biodiversidade. Onde há verde e onde há água, o capital tem investido e tem gerado formas diversas de conflitos no campo, o que tem sido um desafio para os camponeses e camponesas e consequentemente pra CPT, que é esse apoio e serviço aos homens e mulheres do campo.
Repensar o modelo de produção – “Hoje, nos desafiamos a, como diz o lema de nossa Assembleia, "não extinguir o espirito, não desprezar as profecias". A esperança continua nas vidas dos povos da Terra, das Águas e das Florestas, na biodiversidade. Mesmo com toda a adversidade, os camponeses e as camponesas se apresentam com a vontade e o desejo de continuar produzindo alimentos e explicitam a necessidade de repensar o modelo de produção. É comum pensar a viabilidade da produção de alimentos somente em larga escala, mas é necessário pensar uma produção comunitária, pensar o território como espaço de vida e envolvimento de todas as pessoas que nele vivem.”
Caos e esperança - "Vivemos um momento extremamente contraditório, entre o caos e a esperança. Entre o caos da incerteza da economia mundial e do desgoverno nacional, mas também entre a esperança do povo de continuar vivendo, produzindo alimentos, protegendo a terra e o território, reencantando o espaço em que eles(as) vivem, para que as próximas gerações também consigam viver da terra. Nesse processo de construção, a juventude cumpre um papel fundamental".