Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Os relatos foram feitos durante apresentação de experiências, na tarde desse primeiro dia de Congresso. Além dessa experiência sobre o babaçu livre, outras 20 foram partilhadas. Confira:

(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT

Imagem: Rafael Oliveira)

Dona Antônia Célia tem 52 anos. Desde os 12, ela se dedica ao trabalho de quebrar coco babaçu. O trabalho, segundo Dona Antônia, aprendeu com a mãe. Hoje, ela divide a tarefa com o marido e os sete filhos. “Tem até umas netas já crescidas que às vezes nos acompanham”, contou a trabalhadora na Tenda temática sobre “Memória”, no IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado entre os dias 12 e 17 de julho, em Porto Velho (RO).

Moradora de Governador Archer, no Maranhão, a presidente da associação de quebradeiras de coco babaçu do município garante a renda da família com o que o fruto proporciona. “A gente vende o coco e também produz o sabão”, afirma ela, orgulhosa.

Sobreviver do extrativismo nos babaçuais, no entanto, nunca foi uma rotina simples para ela e as colegas. “Antes, nós não tínhamos o coco porque os fazendeiros não permitiam que entrássemos para colher. Essa situação ainda acontece, mas em menor quantidade”, diz.

Desde 2012, as quebradeiras do município têm o respaldo da Lei do Babaçu Livre, que assegura o livre acesso às palmeiras, mesmo que estejam em terras privadas. “Antes de conseguir esses direitos, nós perdemos muitas companheiras. Nós ficamos marcadas pela luta”, recorda Dona Antônia.

Também quebradeira de coco, Flaviana dos Santos, presidente da associação de quebradeiras de coco babaçu de Dom Pedro (MA), relata que sua comunidade ainda não conseguiu a aprovação dessa mesma lei que beneficia o trabalho com o babaçu. “Nós já fomos muito ameaçadas pelos fazendeiros. Hoje eles têm muito pasto com capim, derrubando as palmeiras e matando nossa cultura de muitas gerações”, afirma.

Antes de estarem organizadas, Flaviana e as colegas vendiam o quilo do coco por 30 centavos aos próprios fazendeiros que as reprimiam. Hoje, elas comercializam o quilo a R$ 1,60 nos mercados da região. “A gente continua entrando nas fazendas, podemos até apanhar, mas nunca mais venderemos para os fazendeiros”, enfatiza a quebradeira.

“Nesse processo todo, as mulheres assumiram a identidade de quebradeiras e se fortaleceram no enfrentamento aos fazendeiros. Para elas, o trabalho com o babaçu é a continuação da família, da cultura, da comunidade”, pontua Marcia Palhano, agente da CPT no Maranhão.

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