O Padre Sebastião, da Comissão Pastoral da Terra da diocese de Floresta e que acompanha as famílias atingidas, relata que os impactos são sentidos por todas as partes. De acordo com o Padre, a reação das famílias é de espanto e de revolta, principalmente em dias de explosões com dinamites no canteiro de obras bem próximo à comunidade.“Primeiro a sirene toca várias vezes avisando aos moradores que irá ocorrer uma explosão. Ai, todos saem correndo de suas casas e a rua é fechada”, relata. Após as explosões, os moradores e moradoras retornam às suas casas para conferir os prejuízos. Foi exatamente isto o que aconteceu após uma série de explosões, realizada no último dia 13 de outubro: várias casas foram atingidas por destroços. O trabalhador José Guilherme da Silva Filho mostra as várias rachaduras em sua casa. “Até agora não foi consertada” e segundo o trabalhador ninguém da empresa fala em reparar os danos causados pelas explosões. Os impactos não são apenas nas casas. Seu João Alberto de Souza denuncia que o açude que abastece a sua família não enche mais, isso porque segundo o morador “a água que descia para meu barreiro fica represada no amontoado de terra das obras da ferrovia”.
Neste mesmo dia, uma criança de seis anos foi atingida e ferida pelos destroços da explosão. “Foi um momento em que os moradores e moradoras ficam apavorados, um momento de tensão e de indignação para a comunidade” ressalta o Padre. A menina, S.A, foi imediatamente levada pelos pais para fazer exame de corpo de delito. De acordo com os moradores e moradoras, nem o Governo, nem o Estado chegaram a dialogar com a comunidade sobre as obras e todos os transtornos que as famílias sofreriam, “as famílias sentem-se ignoradas pelos órgãos públicos, e são tratadas como se fossem um empecilho ao “desenvolvimento”, ressalta o Padre. Foi a partir deste episódio que as famílias se organizaram e juntas denunciaram o caso ao Ministério Público.
Transnordestina: sob os trilhos da destruição
A Transnordestina, ferrovia de 1.728 quilômetros, vai ligar os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) ao município de Eliseu Martins (PI). O megaprojeto, que cortará todo o Estado de Pernambuco de leste à oeste, está orçado em aproximadamente R$ 5,4 bilhões, sendo o Ministério da Integração Nacional responsável pelo financiamento de cerca de 70% da obra. A Ferrovia servirá para potencializar o avanço dos transportes de minérios, produtos do agronegócio e outras matérias-primas para exportação.
É uma obra que coleciona grandes números, principalmente os relacionados a quantidade de famílias atingidas, que estão sendo ou serão despejadas de suas casas e comunidades inteiras destruídas em nome do “progresso”. Além das 200 famílias que vivem na comunidade de Varzinha e que já sentem os impactos da obra, existem tantas outras que já foram ou serão atingidas pela obra e que são ignoradas pelo Governo e pelo Ministério da Integração Nacional. É o caso também das 100 famílias que vivem nas margens da linha férrea, no distrito de Fleixeiras, em Escada. Em agosto, as famílias receberam um mandado de reintegração de posse e de demolição de todas as casas, sem que nenhuma família fosse ouvida e sem nenhuma garantia de direitos. Diante da situação, as famílias chegaram a realizar duas manifestações em setembro como forma de serem ouvidas pelo poder público. Como resultado, as famílias conseguiram o adiamento da reintegração de posse até que uma solução seja construída junto as famílias que ali vivem há mais de 40 anos.
A parede rachada na casa de Seu José Guilherme da Silva Filho. As rachaduras foram consequência das explosões no canteiro de obras da Transnordestina, que fica bem pŕoximo à comunidade de Varzinha.
Foto: Padre Sebastião/CPT
As famílias recolhem as pedras oriundas das explosões no canteiro de obras. Uma dessas atingiu uma criança de seis anos.
Foto: Padre Sebastião/CPT
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Padre Sebastião
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