Agora pela manhã (8h), cerca de 70 famílias que estão sendo ameaçadas de expulsão pelas obras da Transnordestina realizam protesto na BR 101, próximo à entrada do município de Amaraji e do Bairro de Frexeiras (município de Escada/PE). As famílias pretendem fechar a BR até que representantes do Governo do Estado e do Ministério Público venham negociar com os moradores e moradoras.
Aproximadamente 70 famílias que moram às margens da linha férrea em Frexeiras, bairro do município de Escada (zona da mata sul de PE), serão impactadas pelas obras da Transnordestina. A empresa Transnordestina Logística S/A moveu uma ação de reintegração de posse contra as famílias que vivem no local e o Juiz da Comarca de Escada já concedeu a liminar à Empresa. De acordo com a decisão, as famílias deverão ser expulsas e todas as casas destruídas. "Aqui tem pessoas que moram há 40 anos, 25 anos 10 anos e vão sair sem direito a nada. Que desenvolvimento é esse que eles falam?", questiona uma das moradoras do local sobre o discurso da Empresa e do Governo que diz que a Transnordestina é para desenvolver o Estado, ignorando as famílias que vivem no local onde a obra passará por cima.
Uma história de Expulsão em nome do "desenvolvimento"
As cerca de 70 famílias que habitam atualmente nas margens da linha férrea no bairro de Frexeiras possuem uma história de expulsões de suas terras e casas em nome do chamado “desenvolvimento". Como contam os moradores e as moradoras do local, "a gente morava nos engenhos da Região: Frexeira Velho, Contendas, Recreio, Refresco, Barão, Limeira, Pilões, Maravilha e Bosque. Na época, fomos expulsos dos sítios em que morávamos para as Usinas plantarem mais cana", explica a moradora que preferiu não se identificar. O período a que se refere a moradora é o do Pro-Álcool, em 1975: Programa do Governo Federal, que fez com que as Usinas produzissem além de açúcar, o álcool combustível, motivado pela crise do petróleo na época. "Destruíram nossas casas, derrubaram nossos sítios. Fomos expulsos sem direito a nada. Na época eles falavam que tinham que produzir álcool para os carros e que isso era o desenvolvimento", ressalta outra moradora. Segundo a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de PE, a Fetape, neste período do Pro-Álcool em Pernambuco, mais de 40 mil sítios foram destruídos para garantir o avanço da cana de açúcar no Estado.
Expulsas sem nenhum direito garantido, as famílias foram para as chamadas "pontas de rua", para as periferias das cidades. "Algumas foram para as casas de parentes, outras foram pagar aluguel, outras ocuparam aqui, à beira da linha do trem", fala um dos moradores. Ele lembra da época em que o trem funcionava: “Para quem queria ir para as cidades de Cabo de Santo Agostinho ou Recife era só pegar o trem”. Mas, há cerca de 20 anos o trem não funciona mais para trafegar pessoas. “Só passa dois trens aqui, um para carregar açúcar e álcool e outro para fazer a manutenção dos trilhos", explica o trabalhador. Com o projeto da Transnordestina em curso, as linha férreas estão sendo reativadas. De fato, o projeto da Ferrovia não prevê o transporte de passageiros/as, apenas de produtos para os Portos. “Eles vão expulsar a gente daqui para o trem funcionar para carregar açúcar, álcool, minérios, soja. Que desenvolvimento é esse que não inclui a gente? Ao contrário, exclui e expulsa as famílias que vivem aqui sem direito a nada." ressalta.
De acordo com as famílias impactadas pela Transnordestina, a empresa Transnordestina Logística havia pedido para entrar em suas casas para medir e cadastrar as famílias com a promessa de indenizá-las caso tivessem que sair do local. No entanto, não foi isso o que aconteceu. "Ela (a empresa) veio aqui, mediu tudo e pegou nossos dados, sabe o que aconteceu? Entrou com um processo contra a gente para expulsar a gente daqui sem direito a nada!" comenta a moradora.
No início do mês de setembro, as famílias participaram de uma audiência na Comarca de Escada. Na ocasião, o Juiz informou que as famílias teriam 30 dias para saírem de suas casas. "Se eles fizerem isso, onde vamos morar? Eles não veem que aqui moram crianças, mulheres, homens, idosos, deficientes? Aqui moram seres humanos!", desabafa uma das moradoras e afirma:"Não vamos sair daqui sem ter um lugar para morar. Se não garantirem nossos direitos vamos enfrentar o que for preciso e eles não destruirão nenhuma casa!".
Outras informações:
Comissão Pastoral da Terra
Plácido Júnior: (81) 9774.5520
Renata Albuquerque: (81) 9663.2716