Desde Viotá, Colômbia, terra de heróicas lutadoras e lutadores do campo, como Juan da Cruz Varela, Víctor Julio Márchan e Raúl Valbuena, que doaram suas vidas pelas causa camponesas, sociais e populares, na contramão dos permanentes e selvagens ataques do capital e do império, as e os membros da Comissão Política Continental da Coordenadoria Latinoamericana de Organizações do Campo, CLOC- Via Campesina, nos juntamos nos dias 28, 29 e 30 de agosto último, para refletir e debater sobre a conjuntura de nosso continente.
Nesse contexto, o objetivo central de nosso encontro foi avaliar e dinamizar os acordos políticos e linhas de ação resultantes do V Congresso Continental da CLOC- Via Campesina, realizado no Equador em outubro de 2010. Assim como consolidar acordos em nível continental, que servirão de insumos para a reunião da Comissão Coordenadora Internacional da Via Campesina, que se desenvolverá em setembro, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em São Paulo, Brasil.
Enquanto CLOC-VC vemos com preocupação como o capital adota novas e diversas formas para seguir se reproduzindo cinicamente, fortalecendo, assim, seu modo de dominação e exploração, mediante um novo modelo de acumulação, que favorece o extrativismo, a expansão do capital trasnacional, e que, em termos ideológicos, se expressa através da criminalização da luta social. Nesse sentido apresentamos algumas das principais reflexões e compromissos que assumimos como CLOC-VC:
- Continuamos fortalecendo os processos em torno Plano de Ação: articulando as ações e mobilizações locais e nacionais na luta pela terra, e contra as transnacionais e o agronegócio. Aprofundando as ações em torno da Campanha pela não violência contra as mulheres, Campanha Global por Reforma Agrária e a Campanha Continental contra os Agrotóxicos, que será lançada oficialmente no dia 3 de dezembro próximo, junto a uma grande mobilização continental;
- Estamos resolvendo os últimos detalhes para a realização do XII Acampamento Latinoamericano de Jovens da CLOC-VC, que se efetuará na Argentina em Outubro de 2011. Este espaço reunirá mais de 1.500 jovens do campo de todo o continente.
- Valorizamos o trabalho realizado nas áreas de formação e comunicação. Em formação, buscamos posicionar nossa linha de Soberania Alimentar, mediante os Institutos de Agroecología e os demais processos de formação das organizações no continente. Em Comunicação, nosso objetivo é consolidar a Articulação de Comunicação com militantes que façam frente à ditadura midiática imposta pelas classes dominantes. Os meios de massas são, no momento, os principais aparelhos ideológicos da globalização, cujo papel é o de reproduzir a dominação dos grandes interesses financeiros e oligárquicos mundiais. Convocaremos a nossa I Escola de Comunicação Popular no próximo mês de novembro, na Nicarágua.
- Refletimos sobre a nova ofensiva do capital global, agora encoberto por uma “economia verde”, com o que se pretende terminar de mercantilizar os bens naturais, aprofundar o saque, principalmente, exterminando, assim, o campesinado em nosso Continente. Como CLOC-VC consideramos queessas “alternativas” são as falsas soluções que o capital propõe frente à crise climática. Devido a isso, continuaremos desenvolvendo e potenciando nossa capacidade de mobilização e resistência, organizando lutas nas regiões e países, no marco da Rio 20. No Brasil, principalmente, concentraremos ações com o objetivo de desmascarar o circo criado em torno da Rio 20, onde o capital, tal como o fez há 20 anos por trás do conceito de “economia sustentável”, disfarça sua estratégia de acúmulo dos bens naturais atrás do nome de “mercado verde ou economia verdetentando, assim, mercantilizar a vida. Não há possibilidade de Soberania Alimentar dentro da “economia verde”.
- Analisamos e avaliamos consolidar o processo da ALBA dos Movimentos em nossas regiões, ratificando a necessidade de construir uma articulação continental dos movimentos sociais do campo e da cidade, de maneira a construir um Projeto Popular Continental Alternativo ao capitalismo e um plano de ação continental. Consideramos que é primário fortalecer, desenvolver e aprofundar a luta da classe oprimida para gerar as mudanças trascendentais no mundo, e, assim, consolidar um modelo socialista.
- Expressamos nossa preocupação frente ao encontro da União Européia e América Latina, que será realizado no Chile, e que é uma nova forma de colonialismo e uma amostra do avanço de tratados comerciais bilaterais entre a união européia e países americanos. Projetos econômicos que de fato repercutirão sobre nossos povos, saqueando nossos bens naturais, expulsando as e os camponeses de seus territórios, e provocando, assim, pobreza e miséria.
- Expressamos nossa solidariedade a todas e todos os jovens do Chile, Espanha e Oriente Médio, que estão se mobilizando, tomando praças, ruas, avenidas, desenvolvendo sua capacidade de indignação e rebeldia, frente ao atual modelo.
- Nesse sentido, também nos solidarizamos com as e os camponeses do Baixo Aguan, em Honduras, e das beiradas dos rios de Polochic, na Guatemala, que estão sendo continuamente perseguidos e assassinados. Apoiamos e respaldamos a luta incansável pela Reforma Agrária na Colômbia. Reiteramos nossa exigência para que a ONU ponha fim à ocupação militar do Haiti. Seguiremos exigindo a libertação dos 5 presos cubanos. Denunciamos as práticas da OTAN na Líbia, enquanto forças que buscam o extermínio dos povos.
- Manifestamos nossa solidariedade com o povo palestino, que enfrenta um genocídio liderado pelo imperialismo. Exigimos o reconhecimento da Palestina como uma nação livre e herdeira histórica de seu território. Como CLOC-VC seguiremos fomentando o internacionalismo, e vamos formar uma Brigada de Solidariedade para que possamos acompanhar a luta na Palestina. Vamos somar-nos à colheita das oliveiras, árvore sagrada da Paz e da Dignidade do povo palestino
- Finalmente, saímos com a tarefa de convocar a todos e todas para a I Assembleia Continental da CLOC- VC, que se realizará em outubro de 2012, e que será uma instância onde se avaliará e continuará a discussão e as linhas de ações do nosso V Congresso, e rumo à VI Conferência Internacional da Via Campesina. Desde já, esta atividade está cheia de muita mística, pois celebraremos os 20 anos da criação da CLOC e da Via Campesina. Neste momento de celebração, temos muito o que comemorar dentro de nossa unidade latinoamericana, como a solidariedade internacionalista, a luta e o confronto contra o neoliberalismo e a resistência dos povos latinoamericanos.
Viotá, Colômbia 2 de Setembro de 2011.
Contra o saque do capital e do império
Pela terra e a soberania de nossos povos
América luta!